São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

"Êta esquadrão de ouro'

BRASÍLIA - O Brasil ganhou quatro medalhas de ouro na Olimpíada, mas o inconformismo foi grande com alguns insucessos. "Foi uma injustiça!", esgoelava-se um locutor de rádio depois da derrota da seleção brasileira de futebol feminino contra a dos Estados Unidos.
Eis aí um problema atávico do Brasil: o excesso de auto-estima -e não a falta, como querem fazer crer Lula e um comercial meloso que anda passando na TV ultimamente, mostrando cenas do jogador Ronaldo e do cantor Herbert Vianna.
O que se viu na final do futebol feminino em Atenas foi justiça. Milhões, não milhares, de meninas nos EUA praticam o esporte desde cedo. Dedicam-se anos a fio. É justo que ganhem. Injusto seria se brasileiras agrupadas apenas desde março, com quase zero de incentivo, superassem o esforço perene das adversárias.
No esporte, ou em qualquer outra atividade, é bom quando a vitória vai para quem tem mais capacidade de organização, esforço e, se possível e de preferência, talento.
A vitória das brasileiras no futebol seria bacana para as jogadoras e péssima para o país. Ajudaria a perpetuar a crença na eficácia da organização acochambrada. Ou que "o-talento-brasileiro-supera-tudo".
Torcer por Pretinha, Marta e cia. é bom. Mas achar que a derrota foi injusta só demonstra o quanto faz mal ao país o excesso de auto-estima.
O brasileiro já apoiou ditadura militar, cinco anos para Sarney, Collor confiscando a poupança, populismo cambial de FHC e, agora, o pastel de vento do governo Lula. A nação deposita esperança em qualquer um.
Não seria ruim experimentar menos autoconfiança, menos auto-estima. Todos percebendo o quinto mundo em que vivem. Só temos eleições com alguma liberdade e regras estáveis há uns 20 anos. Nos EUA, o sistema vigora há mais de 200.
Outra opção é sair por aí cantando marchinhas de Copa do Mundo: "Com brasileiro, não há quem possa!". É mais triste do que a derrota das brasileiras no futebol.


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