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FERNANDO RODRIGUES
"Êta esquadrão de ouro'
BRASÍLIA - O Brasil ganhou quatro
medalhas de ouro na Olimpíada,
mas o inconformismo foi grande com
alguns insucessos. "Foi uma injustiça!", esgoelava-se um locutor de rádio depois da derrota da seleção brasileira de futebol feminino contra a
dos Estados Unidos.
Eis aí um problema atávico do Brasil: o excesso de auto-estima -e não
a falta, como querem fazer crer Lula
e um comercial meloso que anda passando na TV ultimamente, mostrando cenas do jogador Ronaldo e do
cantor Herbert Vianna.
O que se viu na final do futebol feminino em Atenas foi justiça. Milhões, não milhares, de meninas nos
EUA praticam o esporte desde cedo.
Dedicam-se anos a fio. É justo que
ganhem. Injusto seria se brasileiras
agrupadas apenas desde março, com
quase zero de incentivo, superassem
o esforço perene das adversárias.
No esporte, ou em qualquer outra
atividade, é bom quando a vitória
vai para quem tem mais capacidade
de organização, esforço e, se possível e
de preferência, talento.
A vitória das brasileiras no futebol
seria bacana para as jogadoras e péssima para o país. Ajudaria a perpetuar a crença na eficácia da organização acochambrada. Ou que "o-talento-brasileiro-supera-tudo".
Torcer por Pretinha, Marta e cia. é
bom. Mas achar que a derrota foi injusta só demonstra o quanto faz mal
ao país o excesso de auto-estima.
O brasileiro já apoiou ditadura militar, cinco anos para Sarney, Collor
confiscando a poupança, populismo
cambial de FHC e, agora, o pastel de
vento do governo Lula. A nação deposita esperança em qualquer um.
Não seria ruim experimentar menos autoconfiança, menos auto-estima. Todos percebendo o quinto
mundo em que vivem. Só temos eleições com alguma liberdade e regras
estáveis há uns 20 anos. Nos EUA, o
sistema vigora há mais de 200.
Outra opção é sair por aí cantando
marchinhas de Copa do Mundo:
"Com brasileiro, não há quem possa!". É mais triste do que a derrota
das brasileiras no futebol.
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