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VINICIUS TORRES FREIRE
A estabilidade conservadora de Lula
SÃO PAULO - A ascensão dos candidatos petistas-lulistas às prefeituras
será mais uma escora da estabilidade
conservadora, programa que claudicou sob Fernando Henrique Cardoso
e que se realiza sob Lula da Silva.
Não se trata de inflação baixa, essa
estabilidade. Trata-se da asfixia da
alternativa política e das expectativas reformistas, da rendição geral ao
casamento da política econômica
conservadora com a progressiva universalização da esmola.
Não se sabe, claro, se virão crises financeiras externas (por definição
imprevisíveis) nem se sabe ainda se a
economia suporta mais dois ou três
anos de crescimento entre 3,5%, dada a anemia da infra-estrutura. Não
se sabe ainda, mas pode suportar.
Quase não há como mexer na base
da política econômica pelos próximos
dois anos sem produzir emendas piores que o soneto. Metas rígidas de inflação e a superestimação de inflação
no mercado (afora algumas pressões
reais de preços) encalacraram a política monetária por algum tempo.
O crescimento até a eleição de 2006
deve minar ainda mais a oposição.
Além de incompetente e no mais das
vezes apenas fisiológica (PFL), exagerou no próprio conservadorismo
quando governo (PSDB), não tem
projeto político ou idéias, tendo nada
a dizer contra o PT, que apenas realiza o projeto tucano-mercadista.
Não existe governo Lula além da
economia, da propaganda e de
ameaças autoritárias.
A grande empresa aderiu animada
ao governo ou dele não se queixa.
Não há oposição social, popular, à
vista. O programa de pequenas reformas econômicas, que em si não são
más, é de discussão cativa de Fazenda, BC, academia conservadora e a
nata pensante do mercado. Faltam
crítica independente e política para
dar força a tal crítica.
O governo, mesmo conservador,
não vai conter a dívida pública tão
cedo. Não haverá, pois, investimento
público nem em habitação e saneamento, base de qualquer programa
pela saúde e pelo emprego populares.
A desigualdade permanecerá abjeta.
Resta o sopão, criação dos anos 70
alavancada pela Carta de 88 e por
FHC e que apenas ganhou rótulo novo sob Lula. É isto o Brasil.
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