|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Democracia no islã
DEMOCRACIA e islamismo
são compatíveis? A Turquia tenta demonstrar
que sim, mas enfrenta um duro
teste com a assunção do ex-chanceler Abdullah Gül à Presidência. Gül é um muçulmano
moderado, mas, na Turquia,
qualquer inclinação religiosa
basta para despertar a desconfiança do establishment laico,
formado por oficiais do Exército
e por altos funcionários públicos.
Em abril, terminou frustrada a
primeira tentativa do premiê Recep Erdogan de emplacar Gül
-no sistema turco, o primeiro-ministro tem a prerrogativa de
indicar o presidente ao Parlamento. As Forças Armadas
ameaçaram com um golpe para
preservar a laicidade do Estado.
Diante do impasse, Erdogan
antecipou as eleições legislativas
para julho, e o partido moderado
islâmico AK, ao qual ambos pertencem, obteve uma vitória convincente: 47% dos votos -contra
34% no pleito de 2002. Municiado pelas urnas, Erdogan voltou a
apresentar a candidatura de Gül
e, desta vez, ele foi eleito.
Os militares não gostaram,
mas preferiram não reagir. Uma
aventura extra-institucional poderia comprometer de vez as
chances de o país integrar a UE.
As diferenças entre laicos e religiosos remontam à fundação da
Turquia moderna. Entre as primeiras medidas baixadas por
Mustafá Ataturk (1881-1938),
nos anos 20 e 30, estão a proibição do uso do "hijab", o véu islâmico, em instituições públicas.
O AK, o equivalente islâmico
das democracias cristãs européias, tem evitado o confronto.
Não tentou, por exemplo, reverter a lei do véu. O maior desafio
que lançou foi a indicação de Gül.
Espera-se que os dois lados
consigam entender-se. Para a
Turquia consolidar-se como primeira democracia plena do
mundo islâmico, é preciso que o
Estado permaneça laico, mesmo
sob um partido islâmico -e sem
a tutela dos militares.
Texto Anterior: Editoriais: A fase das provas Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: De cães, elites e "povo" Índice
|