São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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KENNETH MAXWELL

Gisele, Vladimir e Tom

É FIM DE verão no hemisfério norte -os últimos dias de agosto, que prenunciam a temporada das tolices na imprensa, aquela época do ano na qual as notícias sérias cedem espaço a reportagens sobre abelhas assassinas (vindas do Brasil, evidentemente), que voam para o norte e invadem os jardins dos subúrbios norte-americanos. Mas o Brasil, neste ano, emplacou mais do que artigos sobre abelhas assassinas. A revista "Vanity Fair" deu o tom em sua edição de setembro (que, na verdade, chegou às bancas no começo de agosto). A capa e uma seção fotográfica interna são dedicadas a Gisele Bündchen. A página de editoriais mais recente da revista critica vigorosamente a guerra de Bush no Iraque, mas a presença do Brasil em "Vanity Fair" não envolve temas sérios como a política. O que temos é o Brasil festivo, o Brasil de Ipanema, desta vez apresentado por um certo A. A. Gill. A tese dele é a de que o sul ama os traseiros, e o norte ama os peitos.
Evidentemente, a "Vanity Fair" não poderia adivinhar que o presidente russo Vladimir Putin e o presidente francês Nicolas Sarkozy também exporiam os peitos nus à imprensa mundial neste agosto. Estranhamente, foram os franceses que recorreram a fotos retocadas de seu presidente, e não a Rússia, país em que Stálin aperfeiçoou a arte de remover carne politicamente incorreta das fotos oficiais.
Mas não devemos criticar nada disso. É bom para os negócios. Gilberto Gil argumenta que a receita indireta que as exportações culturais brasileiras -abarcando moda, estilo, música e esporte- propiciam ao país é seriamente subestimada nas contas nacionais. Um economista calculou que qualquer revista que coloque Gisele Bündchen na capa eleva sua circulação em 15%. Por isso, as manchetes em Boston têm estado ocupadas com a história do namoro entre a beldade brasileira e o quarterback de futebol americano. É o dream team de qualquer tablóide: Gisele, cujo "patrimônio líqüido atinge os US$ 150 milhões", ao que consta, e Tom Brady, um muito bem remunerado herói do esporte, líder do New England Patriots. Para apimentar ainda mais a história, nesta semana a ex-namorada de Brady, a atriz Bridget Moynahan, deu à luz um filho do esportista.
Assim, neste agosto, a bela derrota a fera (ou pelo menos os insetos). Já que não contamos com abelhas assassinas brasileiras, resta-nos contemplar traseiros meridionais e peitos setentrionais. Em um mundo no qual as notícias sérias são dominadas pelo caso do mensalão e por atentados suicidas, por que não?


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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