São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Palavra e vida

Setembro está para terminar. Foi a ocasião para as comunidades cristãs intensificarem a estima pela "Palavra de Deus". É o mês da Bíblia. Temos que louvar e agradecer a Deus pelo inestimável dom de sua palavra.
Nas celebrações da Eucaristia, um dos momentos que se reveste de maior alegria é o da entrada, em procissão festiva, da "Palavra de Deus" entre cantos e aplausos. Segue-se, depois, a leitura dos textos inspirados.
É essa palavra que devemos sempre acolher, sobre a qual devemos meditar e que devemos aplicar na própria vida, sob a luz do Espírito Santo e da Igreja.
Quantos benefícios temos recebido ao longo da vida graças à leitura da Bíblia! Ela dissipa as dúvidas, fortalece a vontade e move para a prática do bem.
Ao comemorarmos o Jubileu em homenagem a Jesus Cristo, nosso salvador, somos chamados a agradecer tudo o que nos revelou sobre o mistério da vida íntima de Deus, de seu amor pela humanidade, o horizonte de felicidade que nos promete e o auxílio divino para cumprirmos o mandamento da caridade fraterna.
Entre os frutos permanentes da leitura da Sagrada Escritura está a descoberta sempre maior do amor de Deus por nós e da prática quotidiana desse amor pelos irmãos.
Dois aspectos caracterizam a novidade desse amor: sua gratuidade e a alegria que comunica. A bondade infinita e gratuita de Deus é a única explicação da obra da criação, do perdão de nossas faltas e do convite à comunhão com ele e entre nós.
Jesus Cristo une a prática do amor gratuito à experiência mais profunda da alegria quando descreve a festa de Deus Pai ao acolher o filho pródigo, do pastor ao encontrar a ovelhinha desgarrada e da mulher que recupera a dracma perdida (Lc 15).
Há, com efeito, uma alegria misteriosa em fazer o bem. Cristo, ao lavar os pés dos discípulos, diz que serão felizes se fizerem assim (Jo 13, 17). E o apóstolo Paulo, ao ensinar que devemos ajudar os fracos, recorda as palavras de Jesus. "Há mais felicidade em dar do que em receber" (At 20,35). No mundo egoísta, falta-nos a experiência evangélica da alegria que nasce da doação de si aos outros e da reconciliação com os irmãos. Temos muito o que progredir.
Muitos pagam o mal com o mal. Sentimentos de ódio e vingança geram novas formas de violência. Alguns conseguem retribuir o bem com o bem. Não é tão frequente sabermos agradecer. Na parábola de Jesus, entre os dez que alcançam a cura, apenas um volta para mostrar seu reconhecimento. Diante do mal recebido, a palavra de Jesus leva-nos muito mais longe e nos ensina a pagar o mal com o bem. "Amai vossos inimigos. Fazei bem aos que vos odeiam. Rezai pelos que vos caluniam" (Lc 6, 27 e 35). Seremos, assim, filhos do Pai celeste, que é bom para com os ingratos.
Diante das divisões, ressentimentos e discriminações, precisamos ouvir a palavra de Deus e aprender a gratuidade do amor, do perdão e as lições de vida que nos comunica.
O ano do Jubileu proclama a misericórdia. Seja a ocasião de um perdão generoso, que devolva à família concórdia e alegria. Após as ofensas e farpas do período eleitoral, façam todos a paz e unam as forças para promover o bem comum.
Deixemos a palavra de Deus penetrar como semente de vida e felicidade em nosso coração.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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