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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Nasceu, presidente

SÃO PAULO - Se for para levar ao pé da letra as metáforas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então seu governo acaba de nascer. Já se foram nove meses desde a posse.
É verdade que o presidente insiste em que todos tenham paciência porque nascer não basta. Leva um tempo xis para andar e para começar a falar. Ainda assim, seria de supor que o bebê tivesse uma cara definida, um DNA reconhecível, o joelho com forma de joelho e assim por diante.
Nada disso dá para dizer sobre o governo Lula. Ele próprio já afirmou que a política econômica em vigor não é a dos seus sonhos nem a dos sonhos do ministro Palocci . Como a política econômica condiciona todas as demais, fica-se sem saber, portanto, com que bebê sonham Lula e Palocci, seu principal ministro.
À primeira vista, o bebê recusa-se a deixar a posição fetal, como se estivesse se defendendo de algo, talvez da "herança maldita".
O diabo é que, quanto mais tempo passa desde o fim do governo anterior, ela se torna menos herança e mais maldita.
O bebê não nasce virgem, para quem valoriza esse aspecto. Um dos seus muitos pais, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, admite, com a sem-cerimônia dos novos-ricos, que se pratica, sim, fisiologia na gestão petista. Ressalva que ela é "residual". Então, tá. É como virgindade residual. A criança vem ao mundo no instante em que a "parentaiada" se envolve em uma discussão sobre como deveria ser a sua cara. Uns divergem fortemente dos que estão mais próximos da rica manjedoura em que nasceu o bebê e, por isso, são ameaçados de expulsão.
Outros divergem menos ruidosamente. Parecem preferir esperar que uma plástica precoce devolva ao bebê a fisionomia com a qual sonharam.
Tudo somado, dá para chamar o bebê de uma criança do PT? Só na propaganda de Duda Mendonça, mestre na arte de usar crianças no marketing político. Para quem vê de longe, parece apenas um bebê igual aos muitos que a República pariu.


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