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PSICOCIRURGIAS
É grave a notícia, apurada pelos repórteres Rubens Valente e
Pedro Dias Leite, desta Folha, de que
médicos vêm realizando psicocirurgias (isto é, operações no cérebro
com vistas a modificar o comportamento do paciente) sem cumprir o
protocolo exigido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Psicocirurgias são altamente polêmicas. Elas tiveram o seu auge nos
anos 40 e 50, quando milhares de pacientes, mesmo alguns com sintomatologia menor, eram submetidos
a lobotomias e outros procedimentos irreversíveis. Além dos flagrantes
abusos de direitos, os resultados exibidos deixaram muito a desejar. As
psicocirurgias caíram em descrédito
nos anos 70, chegando a ser proibidas em países como a França.
Hoje, passadas algumas décadas, a
situação é diferente. Houve avanços
nas técnicas cirúrgicas que possibilitam maior precisão nas operações.
Sucedâneos da lobotomia são empregados no tratamento de certos casos de epilepsia, mal de Parkinson e
dores crônicas. O uso dessas técnicas com o propósito de modificar o
comportamento do paciente, contudo, segue altamente controverso.
O CFM impõe um protocolo rígido
a esse tipo de procedimento, em tese
indicado para depressões severas resistentes a outras terapias e casos
graves de transtorno obsessivo-compulsivo. A resolução CFM 1.408/94,
que tem força de lei para médicos,
determina que um grupo externo, indicado pelo Conselho Regional de
Medicina, faça uma avaliação dos casos antes da intervenção.
Deixar de observar essa cautela é
grave infração ética que o CFM não
pode de modo algum tolerar. Chama
a atenção também que o número de
pacientes submetidos a psicocirurgias no Brasil seja excessivamente
elevado na comparação com outros
países. Uma investigação abrangente parece oportuna, seja para apurar
eventuais ilícitos, seja para aprimorar
as condutas médicas.
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