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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Erro técnico

RIO DE JANEIRO - Alunos de comunicação social me perguntaram se houve falta de ética no recente caso que envolve um apresentador de TV que colocou em seu programa uma entrevista fictícia com elementos de uma quadrilha de criminosos.
Transformando a informação em opinião e a opinião em espetáculo, os veículos da mídia tendem a apelar para recursos que podem ferir a chamada "ética" profissional -pessoalmente, sou contra qualquer tipo de ética desde que ela substitua a desmoralizada moral que ninguém ousa invocar, com receio de ser considerado moralista.
Antes de ser considerado gênio do cinema, Orson Welles foi chamado de gênio do rádio porque fabricou um programa baseado numa invasão da Terra por seres extraterrestres. Criou uma bruta confusão, houve desmaios, ameaças de suicídio, o diabo; em diversas cidades norte-americanas, a defesa civil entrou em emergência, e tudo não passou de uma armação limitada do então jovem radialista.
No caso do SBT, houve um erro técnico. A produção do programa buscou o sensacional de qualquer forma, acreditando que um espetáculo em si está acima de qualquer valor moral. Há profissionais em quase todos os setores da atividade humana, na política, na administração, na economia e até na vida social, que tecnicamente acreditam estar produzindo impactos disso ou daquilo, como o Fome Zero, de operação lenta e processamento complicado.
Antes de tudo é um erro técnico, primário, fruto de uma avaliação perversa, de uma expectativa errada. A boa técnica do espetáculo, da informação e do bem público deve expressar uma verdade, ainda que uma verdade sujeita a chuvas e trovoadas, como todas as verdades. Montar uma farsa e vendê-la como realidade é pior do que uma barbeiragem moral. Equivale a ser analfabeto da comunicação social.


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