|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Erro técnico
RIO DE JANEIRO - Alunos de comunicação social me perguntaram se
houve falta de ética no recente caso
que envolve um apresentador de TV
que colocou em seu programa uma
entrevista fictícia com elementos de
uma quadrilha de criminosos.
Transformando a informação em
opinião e a opinião em espetáculo, os
veículos da mídia tendem a apelar
para recursos que podem ferir a chamada "ética" profissional -pessoalmente, sou contra qualquer tipo de
ética desde que ela substitua a desmoralizada moral que ninguém ousa
invocar, com receio de ser considerado moralista.
Antes de ser considerado gênio do
cinema, Orson Welles foi chamado
de gênio do rádio porque fabricou
um programa baseado numa invasão da Terra por seres extraterrestres.
Criou uma bruta confusão, houve
desmaios, ameaças de suicídio, o diabo; em diversas cidades norte-americanas, a defesa civil entrou em emergência, e tudo não passou de uma armação limitada do então jovem radialista.
No caso do SBT, houve um erro técnico. A produção do programa buscou o sensacional de qualquer forma,
acreditando que um espetáculo em si
está acima de qualquer valor moral.
Há profissionais em quase todos os
setores da atividade humana, na política, na administração, na economia e até na vida social, que tecnicamente acreditam estar produzindo
impactos disso ou daquilo, como o
Fome Zero, de operação lenta e processamento complicado.
Antes de tudo é um erro técnico,
primário, fruto de uma avaliação
perversa, de uma expectativa errada.
A boa técnica do espetáculo, da informação e do bem público deve expressar uma verdade, ainda que uma
verdade sujeita a chuvas e trovoadas,
como todas as verdades. Montar
uma farsa e vendê-la como realidade
é pior do que uma barbeiragem moral. Equivale a ser analfabeto da comunicação social.
Texto Anterior: Brasília - Valdo Cruz: Barriga cheia Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: Parado Índice
|