São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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PERDÃO DA DÍVIDA

O Reino Unido anunciou, no último final de semana, que pretende assumir 10% do total da dívida dos países menos abastados com o Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento Africano, em uma iniciativa que tem como meta reduzir a dívida externa desses Estados, de acordo com o anúncio feito pelo ministro das Finanças, Gordon Brown.
Este exortou os outros membros do G7, que reúne os países mais industrializados do planeta, a seguir o exemplo britânico. Até 2015, Londres reservará US$ 180 milhões anuais para saldar as dívidas dos Estados pobres. Deve-se salientar que o passivo desses países com o Banco Mundial e outras agências de desenvolvimento corresponde a 70% do total de seu endividamento externo.
A medida em si é positiva. Na prática, todavia, se não for acompanhada de outras iniciativas, não terá grande impacto sobre a pobreza existente nas regiões mais necessitadas do globo. Vale lembrar, ademais, que, para as contas do Reino Unido, a quantia é quase irrisória.
Em seu discurso, bastante aplaudido, Brown condenou o "escândalo e o desperdício" em que se transformou a Política Agrícola Comum da União Européia e acusou os países desenvolvidos de serem responsáveis por parte considerável da pobreza mundial. Afinal, "o protecionismo e as subvenções agrícolas contribuem para agravá-la".
De fato, a abertura dos mercados europeu e americano a produtos oriundos de países menos abastados é essencial para que eles possam encontrar a via do desenvolvimento sustentável. Segundo especialistas, não há real desenvolvimento sem inserção na economia global.
Assim, a intenção britânica é laudável, porém está longe até de atenuar perceptivelmente as desigualdades entre o Norte desenvolvido e o Sul necessitado. O perdão da dívida é tão vital quanto a ajuda direta ao desenvolvimento. Sem uma maior participação no comércio mundial, porém, os Estados pobres continuarão a depender da benevolência internacional, perspectiva nada alentadora.


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