|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Ode aos vencidos
RIO DE JANEIRO - Último domingo de setembro, faltando uma semana
para as eleições municipais. Por acaso, passo pela praça da zona sul onde
esforçado candidato a prefeito faz
seu último comício-monstro, mobilizando toda a militância de seu partido, grande nacionalmente, mas cada
vez menor aqui no Rio.
É um bom, excelente candidato, segundo voz geral, até mesmo de seus
adversários. Mas não colou, por isso
ou aquilo, vai mal nas pesquisas e
sua tentativa tem alguma coisa de
sacrifício, de garantir a legenda para
os vereadores, que também não estão
entre os mais cotados para a eleição.
Nada mais melancólico do que o
disfarce da melancolia. O comício
tem tudo o que deve ter, povo, bandeiras, faixas, santinhos, discursos,
slogans, uma animação postiça e heróica. Houve tempo em que, com
aqueles mesmas bandeiras, aqueles
mesmos apelos, a multidão fervia e
assustava as hostes contrárias.
Já me explicaram mil vezes e eu não
entendi mil vezes o que houve com o
partido aqui pelas nossas bandas.
Presto pouca atenção à política e
quase nenhuma aos altos e baixos
municipais. Sei que o atual prefeito,
César Maia, tem chances de se eleger
no primeiro turno. Meteu-se até numa roupa de cosmonauta, dentro do
seu estilo que está dando certo, pelo
menos para ele.
Gosto e sou amigo pessoal do Conde, um grande sujeito, em todos os
sentidos. O mesmo posso dizer de Nilo Batista, outro herói que entrou na
briga por amor a seu partido e a seu
líder de sempre, Leonel Brizola.
O caso de Bittar me parece o mais
doloroso. Tem legenda boa, tem boa
carreira pública. Vejo o seu comício e
fico triste, embora não tenha qualquer interesse na eleição em si. Faço a
mim mesmo a pergunta: por que isso
acontece? No esporte, o importante
não é vencer, mas competir. Na política, o que importa mesmo é vencer.
Antecipadamente, deixo meu afetuoso abraço aos que vão perder. Se
pudesse, elegeria todos.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O mundo bipolar brasileiro Próximo Texto: Demétrio Magnoli: Notícias do Haiti Índice
|