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Os dois pólos
Vitória de Lula no primeiro turno depende do impacto das últimas notícias sobre dossiê em seu eleitorado mais fiel
NÃO HÁ notícia, no histórico das cinco eleições presidenciais que
o Datafolha acompanhou, de um pleito marcado por
uma divisão tão nítida entre estratos sociais e regionais quanto
o deste ano. As intenções de voto
no presidente Luiz Inácio Lula
da Silva são inversamente proporcionais ao nível de renda e escolaridade do eleitor; ocorre o
contrário com Geraldo Alckmin.
O petista encontra apoio francamente majoritário no conjunto geográfico que abrange Minas
Gerais e os Estados do Nordeste.
O tucano bate o candidato à reeleição em São Paulo e no Sul.
Esse padrão, detectado de maneira incipiente já nas primeiras
pesquisas que se fizeram visando
à sucessão presidencial de 2006,
não apenas se manteve mas se
pode dizer que foi reforçado ao
longo do tempo. Uma espécie de
"muralha chinesa" vem protegendo a fatia do eleitorado mais
fiel ao presidente Lula do assédio adversário. Essa fortaleza
eleitoral mostrou impressionante resistência diante da sucessão
de graves escândalos, ao longo
da segunda metade da administração petista.
Se Alckmin, de acordo com a
pesquisa realizada nesta quarta-feira, atingiu seu maior patamar
de intenções de voto no período
de campanha, ainda não conseguiu avançar sobre o típico eleitor de Lula. O presidente logrou
manter-se no maior nível da série, que vem desde o final de junho, entre os eleitores que declaram ter renda familiar mensal
até R$ 700. Há três dias, o petista
tinha 58% das intenções de voto
nesse estrato, que abrange metade dos eleitores brasileiros.
O mesmo raciocínio aplica-se
em relação ao Nordeste -onde
Lula, na quarta-feira, mantinha
70% das preferências- e em Minas -onde chegou a crescer três
pontos percentuais (para 54%),
no último Datafolha.
O que se está a inquirir nestas
horas finais de campanha é se as
mais recentes notícias a respeito
do escândalo do dossiê serão capazes de alterar ligeiramente esse quadro, a ponto de levar a disputa ao segundo turno. Lula desrespeitou os eleitores ao faltar ao
debate de anteontem na TV Globo; deixou de dar satisfações, exposto ao contraditório que é típico da democracia, a uma vasta
audiência sobre o desmando que
envolveu a cúpula de sua campanha à reeleição numa operação
clandestina contra adversários.
Agora surgem as eloqüentes
imagens das notas de R$ 1,2 milhão e de US$ 248,8 mil apreendidas há duas semanas com dois
petistas num hotel de São Paulo.
O inquérito da polícia, parece,
também vai se aproximando dos
sacadores do dinheiro -o que
suscita explicações as mais estapafúrdias de suspeitos.
A "muralha chinesa" passa por
seu teste decisivo. A identificação do eleitorado de menor renda e escolaridade com Lula
-identificação assentada também em melhorias de padrão de
vida- está sendo exposta a mais
um forte questionamento. Desse
último exame de consciência, estimulado mais uma vez por um
grave escândalo na política federal, dependerá o resultado da
eleição presidencial de amanhã.
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