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LUIZ FERNANDO VIANNA
O horror à diferença
RIO DE JANEIRO - Como entre
minhas poucas virtudes não está a
da adivinhação, vou poupar os chutes sobre o efeito na eleição da ausência de Lula no debate -mas um
programa entre 22h30 e 0h30, em
véspera de dia de trabalho, sem o
protagonista, sei não...
O certo é que a fuga confirma a
nova rota da biografia de Lula. Das
greves do ABC do final dos anos 70
até a eleição de 2002, sua trajetória
se confunde com a abertura política
do país. Sem imprensa livre e democracia consistente, Lula teria
chegado à Presidência?
Mas Lula presidente não marca
coletivas, não dá entrevistas longas,
culpa a "mídia" e a "elite" por tudo o
que lhe acontece, não se responsabiliza pelos atos do partido que lidera e não vai a debates.
Registre-se que ninguém é obrigado a dar entrevistas ou ir a debates. Mas, também, ninguém é obrigado a ser candidato a presidente de
um país democrático. Muito menos
à reeleição.
A ojeriza de Lula a vozes que não
sejam a sua é reforçada pela luta recente do PT para calar jornalistas
na Justiça. Algum militante imaginou que isso aconteceria um dia?
E não é só ele. O governador Roberto Requião faz o mesmo no Paraná. Jandira Feghali, candidata ao
Senado no Rio, quer proibir a igreja
de dar opinião -imaginem o que
ela faria se a igreja tentasse calá-la?
Tem gente que cresceu e apareceu com a democracia, mas quer a
política como um jogo entre iguais.
Alguém que não aceita diferenças
pode construir um país diferente?
Para (também) não fugir do debate, só dois pontos: um positivo,
para Cristovam Buarque, que foi
corajoso ao criticar o Bolsa-Família, o tema mais importante da campanha; um negativo, para Geraldo
Alckmin, que ganhou 40 segundos
para falar de corrupção a um Lula
ausente e divagou sobre SUS e Fundeb. Depois não vá culpar o povo.
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