![]() São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Lula, o PT e a Federação CESAR MAIA
Durante a campanha que consagrou o sr. Luiz Inácio Lula da Silva
presidente da República, com toda a legitimidade, nunca coloquei a estabilidade econômica à frente da estabilidade
política como prioridade nacional. A estabilidade política -a democracia de
verdade- é o bem maior que devemos
preservar. Até porque a instabilidade
econômica tem um preço político do
qual nenhum governo escapa. Mas a
instabilidade política pode ter consequências tão graves quanto imprevisíveis e profligar décadas de conquistas
sociais e econômicas.
E, o que é extremamente grave, essa ocupação regional tenderá a se organizar com a expectativa de governos estaduais e municipais paralelos, rompendo com o princípio federativo, numa espécie de volta dos perdedores. Se isso ocorrer, estaremos vendo o desencadear de uma crise política de grandes proporções. Não tenho dúvidas da vontade e da vocação democrática do presidente eleito e de sua equipe central. Mas, se sua atenção não estiver igualmente voltada, neste momento, para a dinâmica da ocupação da estrutura descentralizada do governo federal, e esta, ocupada de baixo para cima, confundir a Federação com um Estado unitário, imaginando que as eleições presidenciais alcançam também a atribuição constitucional de governadores e prefeitos, então poderemos estar abrindo as portas para uma crise política com todos os ingredientes latino-americanos. Os governadores e prefeitos foram eleitos exatamente da mesma forma que o presidente. O artigo primeiro da Constituição afirma que são eles -e suas instâncias de governo- que explicam a Federação. A Constituição define as suas responsabilidades privativas e compartilhadas assim com as da União. Esses textos devem ser sagrados e estar sobre a mesa de todos os governantes, de modo que se possam identificar os limites e, a partir destes, conduzir a um trabalho integrado de todas as esferas de governo, independentemente de cores partidárias. A mim não restam dúvidas de que esse é o propósito do presidente eleito. Mas -e muitas vezes- as boas intenções e a confiança indefinida podem não ser adequadamente utilizadas quando se trata de concepções heterogêneas sobre a natureza do Estado e o alcance da legitimidade do voto. Se tudo começar bem, tudo acabará melhor ainda. Mas, se um descuido involuntário ferir a Federação, a instabilidade política será inevitável. Aliás, as urnas deram claramente este recado, afirmando a diversidade política nacional no nível regional, impedindo que a expressiva vitória presidencial transbordasse para os Estados. Em todos os principais Estados brasileiros as urnas traduziram essa vontade de equilíbrio do eleitor. A voz das urnas deve ser bem ouvida pelo PT nos Estados e municípios, evitando constrangimentos hoje e problemas amanhã ao presidente eleito e ao país. Se for assim -e espero que seja-, estaremos diante de uma alternância democrática e desejada de governo. E diante de uma democracia madura e consolidada e da necessária e imprescindível estabilidade política. Cesar Maia, 57, economista, é prefeito, pelo PFL, do Rio de Janeiro. Foi prefeito da mesma cidade de 1993 a 1996. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Teixeira da Costa: Anatomia de uma vitória Índice |
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