São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Anatomia de uma vitória ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA
Estas eleições marcaram, sem
dúvida nenhuma, um momento
histórico na política brasileira. Parece-me importante analisar os fatores que
pesaram na alternância do poder, recém-conquistado pela oposição liderada pelo PT.
Não menos importante foi o fato de que Lula conseguiu -senão totalmente, pelo menos em grande parte- de grupos representativos aqui e no exterior o benefício da dúvida. Explico-me. No início da campanha, a visão do radicalismo do PT e do seu candidato era majoritária. Na medida em que o tempo foi passando, o candidato e um segmento representativo de seu partido afirmando que o PT respeitaria contratos, acabou por se criar o benefício da dúvida. Por último, mencionaria que Serra se impôs como candidato ao seu partido, que nunca lhe concedeu apoio irrestrito, faltando-lhe apoio logístico e financeiro, e sem a coligação que elegeu Fernando Henrique. Teve, ainda assim, uma belíssima votação, que o mantém com uma posição importante no cenário político. Os dois turnos acabaram favorecendo Lula, que foi eleito com um resultado impressionante de mais de 53 milhões de votos. O mandato que recebeu foi de mudanças, mas não tem a latitude de uma ruptura. Estou entre aqueles que julgam que Lula ganhou porque optou por uma política dirigida ao centro, libertando-se das amarras mais radicais da esquerda. A derrota do PT no Rio Grande do Sul é bem emblemática. Porém um grande desafio o espera e seria muito ruim para todos, inclusive para aqueles que nele não votaram, se fracassasse. Não poderá lhe faltar o apoio político para que hajam condições mínimas de governabilidade. Será extremamente importante para o recém-eleito presidente analisar as dificuldades por que o presidente Fox vem passando no México. Ele chegou ao poder quebrando a hegemonia de mais de 70 anos do PRI e até hoje não conseguiu o apoio político para aprovar as reformas que prometera, inclusive a reforma fiscal. Passada a fase de saborear o gosto da vitória, virá a dura realidade de mostrar que o PT mudou e que fará as mudanças prometidas sem romper com os compromissos assumidos durante a campanha. As cobranças serão enormes, e certamente não será possível agradar a todos. A quem o PT irá descontentar? Será possível viabilizar um pacto nacional tentado sem sucesso por governos anteriores? Como administrar as expectativas? Aqui, novamente, a experiência espanhola e conversas com Felipe González, ou mesmo com Ricardo Lagos, do Chile, poderão trazer importantes subsídios. O apoio pós-eleitoral foi fantástico, mesmo daqueles que nele não votaram. Respira-se esperança. Vamos, assim, torcer para que dê certo, sem perder o espírito crítico, mas sem esperar resultados milagrosos. Roberto Teixeira da Costa, 67, economista, fundador e vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, é membro do Conselho de Administração do Banco Itaú. Foi presidente do Conselho de Empresários da América Latina (1998-2000). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Cesar Maia: Lula, o PT e a Federação Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|