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Lula reeleito
A vitória de Lula se dá num clima sem utopias, em que desafios políticos e administrativos concretos predominam
RECONDUZIDO ao cargo
com mais de 60% dos votos válidos, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva
vê abrir-se diante de si um horizonte político singularmente diverso daquele com que se deparava em 2002.
Legitimamente referendado
por mais de 58 milhões de eleitores, Lula está longe de corresponder, entretanto, à aura de renovação social e ética de que era
cercado no imaginário de seus
adeptos em 2002; tampouco sua
eleição se associa, agora, às
ameaças de irresponsabilidade
econômica e turbulência política
projetadas pelo discurso de seus
adversários naquela época.
O jogo da sustentação parlamentar, que levou o governo a
tantos desastres e vergonhas nos
últimos quatro anos, terá de ser
jogado mais uma vez. A estratégia de alianças agora em curso
acrescenta às imoralidades do
varejo partidário vigentes no primeiro mandato a oficialização de
um pacto com a macrofisiologia
peemedebista.
Qualquer discurso em torno de
reformas políticas abrangentes,
capazes de dar maior transparência e funcionalidade às instituições republicanas, choca-se
amargamente com o predomínio
do arcaísmo e da ausência de
compromissos ideológicos dos
detentores do poder real.
Das incertas negociações com
esses setores, assim como de sua
própria "vontade política" -cuja
intensidade e consistência têm
deixado muito a desejar- é que
depende o presidente reeleito
para responder aos desafios de
seu próximo mandato.
A aceleração do ritmo do crescimento econômico, ao contrário do que tanto lulistas quanto
oposicionistas afirmaram no decorrer desta campanha, não dispensa um equacionamento da
questão das contas públicas; a diminuição continuada da taxa de
juros e o desafogo da carga tributária não dispensam a realização
de reformas para controlar as
despesas federais -reformas cujo teor e cujas chances de respaldo legislativo são, a esta altura,
absolutamente nebulosos.
Terão paralelamente de prosseguir com rigor as investigações
em torno do chamado dossiegate. Democraticamente eleito, o
presidente da República não está
acima da lei e das instituições do
país. Tende a arrefecer, sem dúvida, o furor inconformista dos
que, supondo-se já derrotados
nas urnas, por vezes incorreram
numa retórica açodada de contestação do futuro mandato presidencial. Somente fatos e evidências, fundamentados numa
investigação minuciosa, poderão
dar resposta às questões que até
hoje ficaram sem esclarecimento em todo o escândalo.
Enquanto isso, e já amainado o
período das exaltações eleitorais,
não faltam entretanto outras incertezas, de ordem econômica,
política e administrativa imediata, a que o próximo mandato de
Lula terá de dar firme resposta.
O desafio de passar da "realpolitik" dos acordos parlamentares à
adoção de medidas objetivas para a aceleração do desenvolvimento econômico está colocado;
resta saber se Lula e as forças que
o apóiam estão prontos a enfrentá-lo desta vez.
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