São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice CARLOS HEITOR CONY Cara quebrada RIO DE JANEIRO - Nunca trabalhei com o Assis Chateaubriand, daí que não aprendi o conselho que ele dava a seu pessoal: "Não usem ironia nos textos, os leitores não entenderão". Foi mais ou menos isso que se deu comigo. Para ser irônico é preciso ser sábio, coisa que não sou. Por isso, quebrei a cara. Escrevi uma crônica comentando o desdém que a crítica dedica ao cantor Roberto Carlos e ao escritor Paulo Coelho. Acho um milagre a sobrevivência dos dois, pois, se dependesse da mídia especializada, eles estariam morando sob a ponte, esmolando e rogando pragas contra o mundo. Não é bem assim. Tanto um como outro têm um público fiel, não tomam conhecimento das críticas, vão em frente, não retalham, e, quando podem, ajudam os outros. Sou amigo pessoal de Paulo Coelho, ele sabe que pode contar com o meu voto para a ABL, eu admiro o seu caráter, sua grandeza em não atacar ninguém e usufruir com dignidade o sucesso que tem. Não penso como ele, que é um otimista, um místico, um sujeito que, se dependesse dele, o mundo seria melhor. Nem por isso deixo de ser seu amigo e de admirar o modo com que faz cada vez mais sucesso. Quando Roberto Campos se candidatou à Academia, defendi o direito dele de disputar a vaga de Dias Gomes, embora na época eu não pertencesse àquela instituição. Aliás, foi por causa dessa briga pessoal que acabei entrando para a ABL -mas isso não vem ao caso. Já disse aqui neste canto que, se FHC for candidato, dependendo dos concorrentes, também votaria nele. Não gosto de misturar canais. Quanto ao Roberto Carlos, não admiro o gênero dele, mas não engrosso o time que o satanizou, considerando-o uma aberração da natureza artística nacional. É outro que nunca quebra a cara, coisa que acabei fazendo neste final de ano, de século e de milênio. Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Um mito chamado São Caetano Próximo Texto: Luciano Mendes de Almeida: 2001, paz e bem Índice

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