São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2000

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FERNANDO RODRIGUES

Um mito chamado São Caetano

BRASÍLIA - Cria-se o mito de que São Caetano do Sul seria um paraíso na terra. Não é. Longe disso.
A cidadezinha do Grande ABC ganhou notoriedade porque o time de futebol local fez uma esplêndida campanha na Copa João Havelange. Descobriu-se que perto de 100% dos sul-caetanenses têm água encanada, luz elétrica e saneamento. Todas as ruas são asfaltadas. Não há favelas.
Nada mal para um país como o Brasil. Mas é bobagem imaginar São Caetano como um fenômeno de administração brilhante ou um reduto de brasileiros iluminados.
Nada disso. Morei em São Caetano 16 longos anos. Infância e adolescência. Para início de conversa, trata-se talvez de uma das cidades mais feias do Brasil. Cinza e poluída. A arquitetura é típica dos bairros operários e/ ou da classe média ignorante.
Os bons índices sócio-econômicos de São Caetano devem-se a uma dupla sorte geográfico-industrial.
Geográfica porque a cidade tem apenas cerca de 15 quilômetros quadrados. Quando as favelas tomaram conta do ABC, em São Caetano não havia mais espaço.
A outra boa fortuna dos sul-caetanenses é a General Motors estar instalada no município -diferentemente de outras montadoras, que preferiram São Bernardo.
A gigante GM ocupa quase a metade da cidade. Dá empregos e paga impostos. O que poderiam fazer os prefeitos de São Caetano? Quase nada é o que fazem. Tudo bem, patrocinam um pouco de esporte, mas deveriam fazer isso há muito mais tempo.
Os progressos mais visíveis que enxergo ao visitar São Caetano são inúteis semáforos novos (totens de gosto duvidoso) e cruzamentos com o asfalto pintado de verde e amarelo.
A grande manifestação cultural promovida pela prefeitura local são shows gratuitos de duplas caipiras.
Ainda assim, é inegável que São Caetano está acima da média. Os indicadores são claros. Mas poderia ser muito melhor do que é, dadas as condições conjunturais ali presentes.


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