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São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2003

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VIDA DESUMANA

Eles não têm água potável nem esgoto sanitário nem coleta de lixo; há mais de dois moradores por dormitório. A lista de doenças que nesse ambiente encontram condições ideais para prosperar é grande. Ela inclui todas as moléstias diarréicas -ainda as grandes responsáveis pela morte de crianças-, os mais variados tipos de verminose, hepatite A, infecções respiratórias e tuberculose. Presumivelmente, são também habitações que favorecem a disseminação de doenças transmitidas por vetores animais, como mal de Chagas, dengue, malária.
Não há exagero nenhum em afirmar que esse tipo de moradia é mais propício para patógenos do que para pessoas. Ainda assim havia, em 2000, 8,34 milhões de brasileiros vivendo nessa situação. São os 5% de habitações consideradas "totalmente inadequadas" contadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no último censo.
Historicamente, a situação está melhorando. Em 1991, as moradias totalmente inadequadas, isto é, que não satisfaziam a nenhum dos critérios enumerados no primeiro parágrafo, perfaziam 11% do total. Também cresceu o número de habitações tidas como totalmente adequadas. Elas eram 33% no início da década passada contra 44% em 2000. O ritmo dos avanços, contudo, ainda deixa muito a desejar, sobretudo quando se considera que a subabitação é fenômeno associado a altos índices de mortalidade infantil.
É claro que há enorme carência de investimento em infra-estrutura, em especial na rede de esgoto, mas também é preciso considerar a questão da renda. Excluídas regiões mais remotas, o esgoto já chegou a praticamente todos os que dispõem de meios para pagar pelo serviço. Se, num passe de mágica, fosse estendida a capacidade física da rede imediatamente, boa parte da população ainda assim ficaria sem o serviço por não ter condições de arcar com a conta no fim do mês.
Além de investir em saneamento, é preciso pensar modos de garantir que o usuário tenha efetivamente acesso a água potável e esgoto. O que está em jogo é a saúde do brasileiro.



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