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RISCO CALCULADO
É louvável que governantes
procurem cumprir suas promessas. Inspira temores, contudo, a
decisão do governo do Estado de São
Paulo de manter 250 internos da Febem no complexo do Tatuapé para
realizar o compromisso de fechar até
o final deste ano a famigerada unidade 31 de Franco da Rocha.
Como as cinco novas unidades de
alta contenção não ficaram prontas a
tempo, a administração de Geraldo
Alckmin optou por manter esse grupo -entre os quais há primários e
reincidentes graves- no Tatuapé até
meados de janeiro. Para tanto, deverá
haver um reforço de funcionários e
de policiais militares.
A Promotoria da Infância e Juventude de São Paulo criticou a falta de
planejamento do governo. Para o Ministério Público, o fechamento da
unidade 31 estava previsto desde o
início do ano; teria sido perfeitamente possível seguir um cronograma
mais apropriado. O governo nega
que tenha havido improviso e atribui
o atraso nas obras às chuvas ocorridas nas últimas semanas.
É claro que há aí um risco calculado. O governador aparentemente
não quis voltar atrás na promessa de
cerrar a unidade de Franco da Rocha.
Há até uma cerimônia de fechamento prevista. O tempo pelo qual os internos deverão ser mantidos no Tatuapé é relativamente curto, algo como 15 dias. Trata-se, ainda assim, de
uma aposta. Técnicos da própria Febem acreditam que um imprevisto,
como uma rebelião ou um confronto
entre menores e monitores, poderá
converter-se numa grave crise.
Se tudo correr bem, Alckmin ficará
com o crédito de ter prometido -e
conseguido- fechar a unidade 31 no
prazo estipulado. Por outro lado, se
alguma coisa sair errado, dará munição a seus adversários políticos.
Não cabe aqui dizer ao governador
como proceder. Ele e seus auxiliares
têm melhores condições de avaliar
os riscos. O que cabe à sociedade e à
imprensa é cobrar resultados, isto é,
exigir uma Febem na qual rebeliões
não sejam a regra e, principalmente,
que cumpra, dentro dos limites do
razoável, sua função educativa para
promover a reintegração de jovens
infratores à sociedade.
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