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SERGIO COSTA
Eles já sabiam. E daí?
RIO DE JANEIRO - Para entrar
no clima fora-da-lei do ano aloprado, roubo a frase de leitor alheio: "O
caos é sempre por excesso de competência, nunca por falta dela". O
autor, Paulo André Gomes Faria,
acertou em cheio ao comentar a onda de violência em "O Globo".
O governo do Estado sabia, desde
novembro, até a data programada
para as ações criminosas: 28 de dezembro. O resultado todo mundo
leu depois: 18 mortos, 23 feridos,
etc. etc. etc. As autoridades bateram
tambor: "Evitamos o pior graças à
ação da polícia". E mais blablablá.
Há umas duas semanas, quando
se tornou público o envolvimento
de nova leva de policiais com o crime organizado, soube-se que relatórios foram produzidos em vão sobre relações promíscuas de agentes
da lei com máfias caça-níqueis.
O ex-secretário de Segurança, deputado eleito Marcelo Itagiba, reapareceu para dizer que já sabia de
tudo o que então vinha à tona. Inclusive da suspeita de que o também eleito deputado Álvaro Lins,
segundo a Polícia Federal, acumulava a chefia de polícia (na gestão de
Itagiba) com a de uma quadrilha.
Se voltarmos mais um pouco,
lembraremos que autoridades de
São Paulo também foram prevenidas de ataques que o PCC planejava
detonar -e detonou- no Estado.
Bandidos tocam o terror enquanto os responsáveis por gerir nossos
impostos se vangloriam de que todo
o mal nas ruas é "apenas" reação ao
sufoco que a polícia impõe ao tráfico, ou aos rigores com que regimes
disciplinares castigam presos mais
perigosos. Quanta competência!
Se as políticas são tão bem executadas, se produzem ótimos resultados estatísticos, e se a inteligência
das polícias nunca foi tão sabida,
por que é que a gente continua
queimando em ônibus, tomando tiro ao lado da cabine de PM, morrendo cada vez que o ladrão pé-de-chinelo se assusta com um movimento brusco dentro do carro?
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