|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A moratória do PT
BRUXELAS - O dia parecia propício para ser bem bonzinho. Nevara bastante durante a noite, e os telhados
de Bruxelas estavam salpicados de
branco, em especial a bela cúpula da
basílica de Koekelberg, a quinta
maior igreja do mundo.
Cenário lindo de ver e, com a calefação ligada, aconchegante o suficiente para impedir que a má vontade se infiltrasse pela janela.
Vou à Folha, pela Internet, e topo
com Tarso Genro, tido como um dos
ideólogos do PT e, agora, secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Tarso propõe "uma espécie de moratória da utopia". Claro que toma o
cuidado de ressalvar: "Não para esquecê-la, mas para regenerá-la".
Assim mesmo, de novo estamos
diante de mais um pouco do mesmo
remédio do governo anterior. Fernando Henrique Cardoso cunhou a
expressão "utopia do possível". Cansei de escrever que "utopia do possível" é a quintessência da mediocridade, pelo óbvio fato de que o possível
qualquer um alcança.
O que um país como o Brasil precisa é da busca da utopia, sem penduricalhos e sem moratória. É inalcançável por definição, mas ou se põe o impossível como meta ou a gente vai ter
que se conformar eternamente com
conquistas medíocres, avanços milimétricos, quando não dois passos
atrás e um adiante ou vice-versa
-tudo insuficiente para o grau de
necessidades e urgências do país.
Tarso Genro poderia ter tido ao
menos a delicadeza de anunciar de
quanto tempo será a moratória da
utopia. Um ano? Quatro? O que resta
do século?
Chega a ser inacreditável que um
governo que nem sequer começou já
peça que o sonho seja posto no congelador e que a esperança seja declarada em moratória.
Não é à toa que muito petista de
carteirinha e coração (coração apertado, aliás) anda achando, como relatou Paulo Nogueira Batista Jr., ontem, que, bem feitas as contas, o medo está vencendo a esperança.
Texto Anterior: Editoriais: MEMÓRIA SELETIVA Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Empurrando com a barriga Índice
|