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São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A moratória do PT

BRUXELAS - O dia parecia propício para ser bem bonzinho. Nevara bastante durante a noite, e os telhados de Bruxelas estavam salpicados de branco, em especial a bela cúpula da basílica de Koekelberg, a quinta maior igreja do mundo.
Cenário lindo de ver e, com a calefação ligada, aconchegante o suficiente para impedir que a má vontade se infiltrasse pela janela.
Vou à Folha, pela Internet, e topo com Tarso Genro, tido como um dos ideólogos do PT e, agora, secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Tarso propõe "uma espécie de moratória da utopia". Claro que toma o cuidado de ressalvar: "Não para esquecê-la, mas para regenerá-la".
Assim mesmo, de novo estamos diante de mais um pouco do mesmo remédio do governo anterior. Fernando Henrique Cardoso cunhou a expressão "utopia do possível". Cansei de escrever que "utopia do possível" é a quintessência da mediocridade, pelo óbvio fato de que o possível qualquer um alcança.
O que um país como o Brasil precisa é da busca da utopia, sem penduricalhos e sem moratória. É inalcançável por definição, mas ou se põe o impossível como meta ou a gente vai ter que se conformar eternamente com conquistas medíocres, avanços milimétricos, quando não dois passos atrás e um adiante ou vice-versa -tudo insuficiente para o grau de necessidades e urgências do país.
Tarso Genro poderia ter tido ao menos a delicadeza de anunciar de quanto tempo será a moratória da utopia. Um ano? Quatro? O que resta do século?
Chega a ser inacreditável que um governo que nem sequer começou já peça que o sonho seja posto no congelador e que a esperança seja declarada em moratória.
Não é à toa que muito petista de carteirinha e coração (coração apertado, aliás) anda achando, como relatou Paulo Nogueira Batista Jr., ontem, que, bem feitas as contas, o medo está vencendo a esperança.


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