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ELIANE CANTANHÊDE
Empurrando com a barriga
BRASÍLIA - Enquanto um manifesto de oito líderes europeus circulava no
mundo com apoio à guerra de George W. Bush contra Saddam Hussein,
Lula reunia no Planalto ministros,
governadores, prefeitos e parlamentares para anunciar o Fome Zero:
"Nossa guerra não é para matar ninguém - é para salvar vidas".
O manifesto foi de Espanha, Portugal, Reino Unido, Itália, Hungria, Dinamarca, Polônia e República Tcheca. França e Alemanha ficaram fora.
É entre esses dois pólos que o Brasil
(leia-se governo Lula) vai ter que optar. Não há política externa criativa
que possa driblar a polaridade.
Dentro do país, Lula mobiliza corações e mentes para o Fome Zero, que
definiu como uma combinação entre
"o emergencial e o estrutural". Ou,
como dizia já na campanha, "é preciso dar o peixe e ensinar a pescar".
Mas o programa é também para
marcar diferenças com "governos anteriores", o que se tornou flagrantemente inviável na economia.
Fora do país, Lula tem usado uma
técnica semelhante. Nem apóia nem
desaprova a guerra de Bush, nem fica
escancaradamente com França e
Alemanha nem com os oito de ontem. Ou seja, está ganhando tempo.
É uma boa tática e, como o Fome
Zero, pode render resultados políticos. Por enquanto, o Brasil de Lula
mantém o discurso do Brasil de FHC:
respeita-se a decisão do Conselho de
Segurança da ONU -que os EUA ignoraram na guerra do Kosovo. Mais
cedo ou mais tarde, Lula vai ter que
se manifestar mais "afirmativamente" ou "pró-ativamente", como se
propõe sua política externa.
Vê-se, portanto, que o novo governo explora bem a lua-de-mel. Investe
na grande causa do combate à fome e
não arrisca declarações apressadas
sobre a guerra contra o Iraque.
Por enquanto, tudo bem. E depois?
Quando o Fome Zero não for mais
novidade e a população cobrar empregos? Quando Bush jogar suas
bombas e o mundo cobrar posições
claras e definidas de quem se pretende líder? Hoje, o amor é lindo. Mas isso não dura para sempre.
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