São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2004

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POUCO CRÉDITO

O Banco Central (BC) divulgou esta semana dados sobre a situação do crédito no país em 2003. O volume oferecido pelo sistema financeiro nacional, de 25,5% do PIB, cresceu 8,7% ao longo do ano passado. Note-se que a informação diz respeito ao saldo nominal das operações -ou seja, não leva em conta a alta dos preços observada na economia. Como a inflação, medida por diversos índices, superou os 8,7%, conclui-se que o poder de compra resultante da tomada de créditos diminuiu em termos reais. É evidente que isso contribuiu para a estagnação da atividade econômica, e em particular para a retração do mercado interno.
É importante ressaltar que a expansão nominal do crédito foi liderada pela parcela do sistema financeiro ligada ao setor público. Esse segmento expandiu suas operações em 16,8% entre o final de 2002 e o encerramento de 2003, enquanto os bancos privados ampliaram suas operações em apenas 3,8%. Se não fosse a oferta mais vigorosa dos bancos públicos o desempenho do crédito e da economia em 2003 poderia ter sido ainda mais pífio.
A atuação mais agressiva dos bancos públicos, à primeira vista bastante bem-vinda por amenizar um aperto creditício que já estava em curso antes de 2003, pode despertar preocupações quanto à deterioração da rentabilidade e aos riscos a que essas instituições estariam expostas. A situação, no entanto, não justifica temores. Segundo as estatísticas de risco de crédito compiladas pelo BC, e também de acordo com os balanços publicados, os bancos públicos não avançaram o sinal.
Se há algo de verdadeiramente preocupante nesse cenário é a evidência de que o volume de crédito disponível no país continua baixo para os padrões internacionais (no Chile é de 74% do PIB, por exemplo) e dramaticamente aquém do que seria razoável num país com o potencial de crescimento do Brasil. Ao mesmo tempo, o custo das operações permanece exorbitante, o que se explica não apenas pelas elevadas taxas de juros, mas pela diferença entre o que as instituições financeiras pagam aos aplicadores e aquilo que cobram nos empréstimos -o chamado "spread" bancário.
Juros nas alturas e margens elevadas na concessão de crédito são faces de uma realidade perversa e de uma política contracionista que permanece desafiando o que já se configurou como um verdadeiro consenso nacional desde a campanha que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva.


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