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POUCO CRÉDITO
O Banco Central (BC) divulgou
esta semana dados sobre a situação do crédito no país em 2003. O
volume oferecido pelo sistema financeiro nacional, de 25,5% do PIB,
cresceu 8,7% ao longo do ano passado. Note-se que a informação diz
respeito ao saldo nominal das operações -ou seja, não leva em conta a
alta dos preços observada na economia. Como a inflação, medida por
diversos índices, superou os 8,7%,
conclui-se que o poder de compra resultante da tomada de créditos diminuiu em termos reais. É evidente que
isso contribuiu para a estagnação da
atividade econômica, e em particular
para a retração do mercado interno.
É importante ressaltar que a expansão nominal do crédito foi liderada
pela parcela do sistema financeiro ligada ao setor público. Esse segmento expandiu suas operações em
16,8% entre o final de 2002 e o encerramento de 2003, enquanto os bancos privados ampliaram suas operações em apenas 3,8%. Se não fosse a
oferta mais vigorosa dos bancos públicos o desempenho do crédito e da
economia em 2003 poderia ter sido
ainda mais pífio.
A atuação mais agressiva dos bancos públicos, à primeira vista bastante bem-vinda por amenizar um aperto creditício que já estava em curso
antes de 2003, pode despertar preocupações quanto à deterioração da
rentabilidade e aos riscos a que essas
instituições estariam expostas. A situação, no entanto, não justifica temores. Segundo as estatísticas de risco de crédito compiladas pelo BC, e
também de acordo com os balanços
publicados, os bancos públicos não
avançaram o sinal.
Se há algo de verdadeiramente
preocupante nesse cenário é a evidência de que o volume de crédito
disponível no país continua baixo
para os padrões internacionais (no
Chile é de 74% do PIB, por exemplo)
e dramaticamente aquém do que seria razoável num país com o potencial de crescimento do Brasil. Ao
mesmo tempo, o custo das operações permanece exorbitante, o que se
explica não apenas pelas elevadas taxas de juros, mas pela diferença entre
o que as instituições financeiras pagam aos aplicadores e aquilo que cobram nos empréstimos -o chamado "spread" bancário.
Juros nas alturas e margens elevadas na concessão de crédito são faces
de uma realidade perversa e de uma
política contracionista que permanece desafiando o que já se configurou
como um verdadeiro consenso nacional desde a campanha que elegeu
Luiz Inácio Lula da Silva.
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