São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Trabalho escravo
"Diante da insistência do jornalista Nelson de Sá ("Quarenta mil escravos", Brasil, pág. A6, 30/1) em mencionar o meu nome em meio ao noticiário sobre os trágicos acontecimentos do assassinato de fiscais do Trabalho em Minas Gerais, tenho a lamentar tal comportamento por considerá-lo injusto e leviano quando se refere a uma realidade totalmente estranha ao meu respeito. Devo reiterar que o jornalista está equivocado ao comentar que o eminente presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, censurou o jornal da Casa por noticiar que fui condenado por explorar trabalho escravo numa fazenda no Maranhão. Na época, o ex-ministro e deputado Francisco Dornelles fez pronunciamento testemunhando que este parlamentar foi vítima de uma armação política e que não existia nenhuma prova sobre a existência de trabalho escravo na fazenda que me pertenceu e foi por mim vendida no Maranhão. Ao noticiar o fato, o "Jornal da Câmara" subverteu a ordem dos fatores e informou que o deputado Dornelles ficou surpreso com a condenação -em vez de frisar o seu testemunho em meu favor. A deturpação do noticiário é que levou o presidente João Paulo a solidarizar-se com minha pessoa e pedir a correção do noticiário. A bem da verdade, não existe condenação por trabalho escravo, e sim a decisão de um juiz de primeira instância de ser paga multa do FAT em nome de agricultores. Cumpridas as minhas obrigações trabalhistas e pagas as indenizações antes de ser vendida a fazenda, para evitar litígios na Justiça -apesar de ser essa uma responsabilidade da firma que administrava a propriedade-, aguardo com serenidade a decisão de instância superior em meu favor. Tenho a consciência tranqüila de que cumpri com meus deveres. Vendi a propriedade ao esbarrar em estruturas locais adversas e ser inviabilizada a implantação de um moderno projeto agropecuário. Repito que, apesar de muito lamentar, não sou responsável por existir tanta pobreza naquela região do Estado do Maranhão. Recomendo ao jornalista refletir sobre suas deduções e comparação para que não cometa a injustiça de ferir a imagem e a honra das pessoas, o que seria uma atitude mesquinha. Caso julgue necessário, disponho-me a transmitir ao jornalista informações e esclarecimentos pertinentes à matéria, fiel ao princípio jornalístico de consultar as fontes e ponderar os contrários."
Inocêncio Oliveira, deputado federal -PFL-PE, primeiro vice-presidente da Câmara (Brasília, DF)

Choro
"Enquanto a mentalidade dos políticos continuar trabalhando contra a população e contra as empresas (e, por conseguinte, contra os empregados), interessada somente em sucessivos recordes de arrecadação, o governo, seja em que esfera for, continuará sendo o maior cúmplice dos sonegadores. Esquecem-se esses governantes que, sem empresas, não há comércio, não há empregos, não há salários, apenas miséria. A capacidade contributiva no Brasil está além do limite. Até quando teremos políticos fazendo dos cidadãos e empresários vítimas de achaque tributário? E ainda há político dizendo que empresário chora."
José de Freitas Guimarães (Paulínia, SP)

Anchieta
"No dia 23/1, às 19h, duas horas após o fechamento regular do Serviço de Documentação Textual e Iconografia (Svdhico) do Museu Paulista da USP, a jornalista Laura Mattos telefonou para saber se o museu possuía uma carta do padre Anchieta ("Ipiranga esconde carta rara de Anchieta", Ilustrada, 24/1). Mesmo fora do horário de funcionamento, fiz a gentileza de atendê-la. Informei a data e o endereçamento do manuscrito de uma página e meia. Disse que o documento estava disponível no serviço de documentação, o que significa que ele não está "escondido" no "arquivo". Quem conhece instituições que fazem a guarda de documentos sabe que apenas uma pequena parte dos acervos é exposta -e não por muito tempo, como é o caso de originais em papel. Em 2002, a carta foi publicada pela Companhia das Letras no livro "Paulística", de Paulo Prado. Também em 2002 esteve exposta no Centro Cultural São Paulo na mostra "António de Alcântara Machado: literatura como jornalismo". Como todos os demais documentos do museu, sua consulta é pública e gratuita. Solicitamos apenas o agendamento da visita. O Svdhico faz a curadoria de mais de 400 mil documentos textuais e 50 mil imagens. O projeto de 1994, ao qual me referi, teve a duração de dois anos e seis meses e resultou no arranjo físico do acervo textual, na produção do "Guia Geral das Coleções Textuais" e na organização do arquivo permanente da instituição (1893-1963). Não compete à supervisora do Svdhico ter armazenada em sua memória a procedência de todos os documentos sob a sua responsabilidade, mas, sim, possibilitar aos interessados e especialistas o acesso à pesquisa. Como instituição de pesquisa na área de história e cultura material, as curadorias do Museu Paulista evitam incentivar o culto "fetichizado" de um único documento. Ao contrário, procura-se demonstrar que a história se faz com documentação maciça, com análise e com interpretação."
Vânia Carneiro de Carvalho, supervisora do Serviço de Documentação Textual e Iconografia do Museu Paulista (São Paulo, SP)

Convocação extraordinária
"A Folha, que costuma reiterar o compromisso ético do jornalismo, deveria prestar atenção no que publica. Na pág. A6 (Brasil) de 29/1, a foto que mostra o plenário da Câmara dos Deputados não tem referência com nenhum texto da página. A legenda dá a entender que se tratava da sessão do dia anterior, o que não corresponde à verdade. O quórum da sessão da Câmara dos Deputados de quarta-feira 28/1 foi de 483 deputados presentes, sendo que a medida provisória do setor elétrico foi aprovada por 344 deputados. Sinto-me confortável em fazer esses reparos, uma vez que abri mão do pagamento dos subsídios durante a convocação extraordinária além de ser leitor diário da Folha."
Doutor Rosinha, deputado federal -PT-PR (Brasília, DF)

Resposta do repórter-fotográfico Lula Marques - A foto em questão foi tirada às 15h20 de 28/1, conforme registro em câmera digital. O quórum apontado pelo deputado só ocorreu à noite.

Ministério Público
"Tenho 27 anos. Não vivi, portanto, a efervescência dos anos 60/70. Não ouvi Bob Dylan, Joan Baez ou John Lennon. Não partilhei os sonhos daquela época: a contracultura, a revolução sexual ou o pacifismo. Criada na década perdida, minha geração cresceu assistindo ao cortejo fúnebre das utopias. Mas eis que, a reboque da Constituição de 1988, vimos o nascimento de uma nova esperança: a imposição de valores éticos, da honestidade e da retidão na condução da administração pública. E quem velaria por tudo isso seria uma instituição redesenhada pela Constituição: o Ministério Público! Assim, não por acaso, o Ministério Público foi tomado por jovens. Mas eis que, de onde menos se esperava, vem o golpe presto e certeiro. Do partido que se dizia depositário dos sonhos da geração anterior vem a tentativa de enfraquecer os jovens sonhadores do MP. Parece que mais um sonho vai se acabando."
Mário Alves Medeiros (Vitória da Conquista, BA)

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