São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

Próximo Texto | Índice

O TESTE DA AMÉRICA LATINA

Nos últimos dias surgiram vários indícios de que a crise asiática, se não está encerrada, prevendo-se longo período de ajuste na região, pode estar entrando numa fase de menor turbulência. A ruptura do sistema foi evitada e, a princípio, essa era a condição para impedir um contágio violento de outros mercados.
Ocorreram vários avanços. Houve um acordo entre os negociadores coreanos e os credores internacionais. Foi alongado o prazo de dívidas de curto prazo para até três anos.
O apoio do FMI à Indonésia de certa forma também acalmou os mercados. Houve valorização da rupia depois de anunciada uma moratória.
Finalmente, uma sucessão de medidas anunciadas no Japão com o objetivo de garantir a integridade do sistema financeiro mostraram que a economia mais rica da região tem um governo atento. Abandonou-se a tradicional política de esconder os "esqueletos" financeiros.
Grandes bancos e corretoras estão sendo obrigados a reconhecer perdas. A corrupção na fiscalização veio à tona. Mas, ao mesmo tempo, estão sendo mobilizados recursos fiscais para evitar uma quebra em cadeia de instituições financeiras.
Entretanto, mesmo supondo-se que seja duradouro o estancamento da sangria asiática, a crise deixou uma lição. Ficou ainda mais evidente que no sistema financeiro global circulam massas de recursos líquidos cujo controle é quase impraticável. Separar razões fundamentais de motivações puramente especulativas é às vezes impossível. E dessas constatações brota uma dúvida inquietante: haverá outros países expostos demais, numa outra rodada especulativa, a ataques e pânicos?
Em sua edição de quinta-feira, o "Wall Street Journal" alertava para supostas fragilidades do presidente Menem. Em Davos, economistas e empresários do Fórum Econômico Mundial têm dúvidas sobre a durabilidade do regime cambial brasileiro.
Assim, ainda que passada, ao que parece, a tormenta na Ásia, podem se impor novos testes de resistência para as economias da América Latina.




Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.