São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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MÃES E BEBÊS EM RISCO

É hoje muito mais comum que uma criança brasileira com menos de um ano morra de complicações ligadas ao parto, ou no período próximo ao nascimento, do que de diarréia, que até os anos 80 liderava a lista de causas de morte nessa faixa etária. Outro problema relativo ao parto é a alta taxa de morte materna no Brasil, cerca de 60% maior que a média latino-americana e 70 vezes maior que a espanhola, por exemplo.
Uma das condições que diminuem a segurança do parto e a dos recém-nascidos é a falta de acompanhamento da gestante, os exames pré-natais. O Ministério da Saúde acaba de divulgar relatório segundo o qual cada grávida faz em média menos de dois exames antes de dar à luz, contra uma recomendação mínima de três e um ideal de seis consultas. Mas médias são, é óbvio, abstrações matemáticas. Segundo pesquisa da Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar (Benfam), de 96, 32% das mulheres não fazem nenhum pré-natal, a mesma situação de 43% das mulheres sem instrução, evidentemente as mais pobres.
Decerto que apenas exames médicos não podem fazer muito pela saúde feminina quando faltam saneamento, comida decente e escola. No entanto, o fato mesmo de que as mulheres possam ter acesso a um médico, além do benefício em si da consulta, significa que melhorou o seu acesso aos serviços sociais básicos. Ademais, o contato com um médico pode diminuir a ignorância sobre a gravidez, o parto e os cuidados básicos de saúde e higiene, aos quais os mais instruídos têm acesso.
Diante desse quadro, o Ministério da Saúde recomenda aos governos estaduais que pelo menos melhorem a qualidade das consultas, visto que sua quantidade está bem aquém do recomendável. Certamente é o mínimo que se deve fazer, ainda que longe do necessário para tornar menores essas duas tragédias brasileiras, a mortalidade infantil e a materna.



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