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As filas de saúde
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
É duro para o nosso coração saber
que, nas madrugadas, há longas filas
diante dos postos ambulatoriais e centros de saúde. Infelizmente, o quadro
se repete nas várias regiões do país.
Acaba de ser publicado, nesta semana,
uma reportagem em Belo Horizonte,
descrevendo a aflição de 6.000 pessoas
aguardando atendimento no laboratório de patologia clínica.
Nosso povo simples sofre demais. Alguns enfrentam a noite toda para obter
a senha. São mães com filhos no colo,
pessoas idosas e, muitas vezes, vindos
de longe. Ficam de pé ou sentadas na
calçada, à espera do nascer do dia e da
abertura dos centros. O pior é quando
as senhas terminam e as pessoas, após
longa espera, ficam sem atendimento.
Os municípios do interior não conseguem oferecer serviços especializados
à população. Os casos são encaminhados às capitais. Por exemplo, em Belo
Horizonte, a rotina de atendimento
abrange mais de 400 municípios em
busca de consultas.
Há várias causas que explicam a precariedade do atual sistema de saúde em
benefício do povo desnutrido e doentio. É insuficiente o teto orçamentário
fixado para os serviços de saúde no
país. Resulta daí a falta de bons hospitais no interior dos Estados e, em consequência, a sobrecarga de serviços para os centros médicos das cidades
maiores.
Além disso, o SUS não retribui, de
modo digno, as consultas especializadas, o que desestimula os profissionais
e intensifica a preferência por serviços
particulares inacessíveis ao povo pobre. Acrescento três elementos que
agravam o sofrimento da população na
área de saúde: 1) é o desconforto dos
pobres que precisam viajar para as
grandes cidades, enfrentando o gasto e
o cansaço do percurso e, não raro, desabrigo da noite; 2) a grande dificuldade, especialmente para os idosos, na
compra de remédios com os quais
consomem boa parte da aposentadoria; 3) a falta de acompanhamento médico no decurso da doença.
Fico triste ao pensar nos vultuosos
gastos que muitos brasileiros e até as
prefeituras -sem discernimento- farão nos dias de Carnaval.
Não coloco em dúvida a intenção dos
responsáveis da saúde para equacionar
melhor o atendimento à população.
Desejo, no entanto, constatar que se
requer mais do que boa vontade para
aliviar o sofrimento do povo. É necessário uma programação articulada entre os vários níveis de governo e as organizações não-governamentais para
uma mudança rápida e eficiente nos
cuidados da saúde; tratamento de
água, orientações de medicina preventiva e alternativa, apoio às ações básicas da pastoral da criança.
Precisamos de uma política corajosa
para dar prioridade à saúde e distribuir
as unidades de atendimento médico
nos pontos nevrálgicos dos Estados,
promovendo, ao mesmo tempo, melhores serviços nos centros de saúde
das pequenas localidades.
As filas desumanas precisam terminar e dar lugar a um atendimento humanitário à população de baixa renda.
Só assim poderemos cumprir o mandamento de Jesus Cristo. Ele, bom samaritano, foi ao encontro do desvalido
e deu-nos a todos exemplo de como
tratar, com amor, os irmãos e irmãs
que padecem necessidade.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados
nesta coluna.
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