São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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O melhor candidato

CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Na seara oficial e oficiosa, o argumento mais brandido pela turma do continuísmo é politicamente correto: o melhor candidato para a sucessão de FHC é o próprio FHC. Lidera as pesquisas, tem a máquina administrativa a seu favor e, a seu favor, tem a falta de escrúpulo para alterar, em benefício próprio, desde a Constituição até o exaustor da cozinha do Palácio do Alvorada.
Cada vez mais surge esta pergunta na mídia: quem melhor do que ele? A pergunta na realidade é uma resposta: quem, senão FHC, poderá garantir esta frente colossal de interesses da classe dominante, que dorme tranquila porque os sindicatos estão atemorizados não pela polícia, mas pelo desemprego?
Muita gente ainda acredita que o regime autoritário dos militares durou 21 anos por causa da repressão policial. Não foi bem assim. Parte da mídia e a quase totalidade da classe política deram sustentação e quadros para os militares ficarem no poder por tanto tempo.
Economistas e tecnocratas de tamanhos e feitios diversos tiveram sua hora e vez. Oligarquias foram criadas nos Estados e nos segmentos principais da economia nacional. Tal como está acontecendo agora. Mudaram alguns nomes, algumas prioridades foram substituídas, mas o núcleo continua o mesmo. Daí a frase que FHC disse que não disse, mas parece que disse mesmo.
O autoritarismo militar tinha um defeito: de tempos em tempos mudava o general-presidente. Isso obrigava a classe política a algum esforço para buscar o alinhamento. Mudava-se o grau, não o gênero do regime.
A mudança de gênero funcionou parcialmente, mesmo com Sarney, Collor e Itamar. Entre trapalhadas mil, a sociedade democratizada tendia a buscar um caminho. A aliança da dissidência do velho PMDB com o PFL, partido que deu sustentação política à força, reatou a linha do neo-autoritarismo. Para eles, o melhor candidato ao poder é o próprio poder.



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