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ALBA ZALUAR
Armadilha autoritária
O TÍTULO já estava escolhido.
Queria escrever sobre a centralização autoritária das
decisões e a irresponsabilidade dos
circunstantes. Teria a matriz do
presidencialismo se reproduzido
nas formas de organização social
existentes no país, até mesmo as
menores, com a armadilha de
um poder que facilmente se torna
autoritário?
Já havia registrado a solidão do
poder de presidentes de blocos de
Carnaval e de associações de moradores em humildes favelas cariocas. Com o poder decisório concentrado em suas pessoas, pesava sobre os seus ombros toda a responsabilidade acerca dos resultados
obtidos. Eram eles que tomavam
sozinhos as decisões sobre quem
faria o quê; quem seria escolhido
para ocupar as posições de maior
prestígio; que curso de ação seria
seguido para conseguir recursos. A
glória dos acertos e a culpa dos erros eram suas.
Em um país que funciona assim,
como se pode pedir que cada um
assuma a sua parcela de responsabilidade sobre ações que exigem a
presença ativa de cada um? A epidemia da dengue em várias cidades
brasileiras, recorrentes há tantos
anos, é um caso ilustrativo desse
dilema. O apelo para que cada um
faça a sua parte tem caído em ouvidos moucos. Como são interpelados para seguir ordens, aceitar decisões, sofrer as conseqüências delas sem poder de recurso, não desenvolveram a capacidade de assumir responsabilidades e de agir coletivamente, o que se chama cultura cívica.
Enquanto refletia sobre isso, fui
assistir ao primeiro concerto da
temporada de 2008 da Orquestra
Petrobras de Música. O seu maestro Isaac Karabtchevsky apresentou a orquestra de uma forma surpreendente. As decisões são hoje
tomadas em conjunto, como na
execução de partituras, em que cada instrumento faz a sua parte e está consciente da sua importância.
O famoso maestro, abdicando do
poder investido no dirigente, instituiu o que denominou de autogestão da orquestra.
Em conversa com amigo empresário de sucesso, fui surpreendida
pelo seu empenho em mudar as regras de relacionamento na sua empresa, inspirado por novos teóricos
da teoria da organização. O sucesso
gerencial das empresas teria por
base novas formas de cooperação e
comunicação entre seus empregados. Chamados desde sempre a dividir decisões e tarefas, a responsabilidade é partilhada por todos.
Talvez tenha chegado o momento de fazer uma reviravolta no modelo de poder vigente no país e na
relação entre líderes e liderados.
Para que um ínfimo mosquito não
continue a ceifar vidas dos mais
frágeis e a derrubar por semanas os
mais fortes.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras
nesta coluna.
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