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RUY CASTRO
Um entre 100 mil
RIO DE JANEIRO - Alguns têm
quilos de cabelo até hoje. A outros, a
calvície emprestou um ar sóbrio e
distinto. Óculos desapareceram ou
foram incorporados. Cinturas cresceram. Mas estão todos bonitos,
principalmente as moças -talvez
porque nenhum deles esteja em dívida com o passado.
Quarenta anos depois, eles olham
para trás e se orgulham de ter feito a
sua parte. O futuro pode não ter sido o de seus sonhos, mas também
não foi o que os inimigos pretendiam impor. O mundo mudou nesse
período e, em boa parte, por causa
deles. Mas coube a eles também
mudar, e isso quase sempre significou trocar o impossível pelo possível e que, em qualquer caso, também podia ser muito.
Estou me referindo aos cem participantes da Passeata dos 100 Mil
localizados pelo fotógrafo Evandro
Teixeira e chamados a posar nas
mesmas pedras portuguesas da Cinelândia em que, no dia 26 de junho
de 1968, eles se misturavam à multidão captada pelo mesmo Evandro.
O balanço que fazem de sua vida
consta do recém-lançado "1968
Destinos 2008". É um belo livro.
Mas não se limita a um exercício de
nostalgia. Ali está a história, com
farto material para reflexão.
A foto original de Evandro -um
emocionante painel de rostos jovens e confiantes, de frente para a
câmera e para a ditadura militar-
está num pôster que acompanha o
livro. É uma ampliação ideal para
que os veteranos da passeata tentem se localizar nela. Mas não é fácil. Os rapazes e moças daquele
tempo obedeciam a certos padrões
visuais -os mesmos cabelos repartidos à esquerda (eles) ou repuxados para trás e presos com elástico
(elas)- que os tornavam parecidos
uns com os outros.
Eu, por exemplo, achei vários
amigos na foto, mas não me reconheci. Podia ser muitos ali. E, de
certa forma, era.
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