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FOGO, ÍNDIOS E FOLCLORE
A notícia de que a Fundação Nacional do Índio (Funai) está financiando
a viagem de um grupo de índios a Roraima a fim de realizar o "ritual da
chuva" para combater o fogo mereceria ser tratada como uma anedota.
Mereceria, não fosse ela o relato de
um exemplo caricatural da inépcia
que vem caraterizando a atuação do
poder público brasileiro diante da
devastação das reservas naturais e da
pequena economia do Estado.
É um disparate que um órgão público como a Funai desperdice os seus
poucos recursos dando chancela a
crenças e práticas que só fazem sentido dentro do universo cultural dos
índios. Isto é, se está considerando
que não há hipótese de que algum
funcionário da fundação realmente
acredite que o ritual caiapó possa levar chuva para Roraima.
Considerações sobre o absurdo à
parte, o que está em jogo é um problema que precisa ser enfrentado de
modo racional, com o auxílio de conhecimentos científicos e o uso de
tecnologia adequada. Embora a Funai não esteja nem de longe no centro do combate ao fogo, a atitude da
fundação parece, no entanto, ser
equivalente à de um ministro da Saúde que resolvesse agora recorrer ao
poder dos pajés para combater a expansão da dengue ou da malária.
A atitude da Funai dá tintas lamentavelmente folclóricas a uma série de
negligências e irresponsabilidades
que contribuíram para agravar a catástrofe ambiental em Roraima.
O governo federal demorou muito a
agir, apesar de ter sido alertado há
meses para a existência do problema.
Recusou a ajuda internacional, mostrando desconhecer a gravidade do
incêndio. Agora, ao nacionalismo injustificado, que, seja dito, ainda parece imperar em amplos setores das
Forças Armadas, vem se somar o primitivismo da Funai, que no episódio
infelizmente se inspira mais na magia do que na ciência.
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