São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 2002

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O PT PRAGMÁTICO

Oito anos depois da aliança entre tucanos e pefelistas, o Partido dos Trabalhadores rende homenagem à mesma lógica política que possibilitou a Fernando Henrique Cardoso duas eleições seguidas à Presidência da República e maioria robusta no Congresso.
Decerto surgirão petistas tentando justificar os passos rumo à "realpolitik" com longas argumentações acerca das diferenças entre Antonio Carlos Magalhães (cuja aliança com FHC foi duramente criticada pelo PT) e Orestes Quércia (de quem Lula e correligionários ora se aproximam). Também haverá quem mencione as novas "condições objetivas" que possibilitam flertes com personagens anteriormente malquistos pelo PT -caso do deputado federal Luiz Antonio de Medeiros e de Paulo Pereira da Silva, ambos de trajetória pública associada à Força Sindical.
Afinal, para a "intelligentsia" do PT, alianças que no passado seriam demonizadas pelo partido agora passam como "flutuações táticas"; governos petistas que, em troca de apoio legislativo, oferecem cargos a lideranças antes satanizadas não fazem fisiologia, mas "política de governabilidade".
No fundo, o que a novilíngua petista faz é justamente confirmar a transição do maior partido de esquerda brasileiro rumo ao centro, no que tange às idéias, e rumo ao pragmatismo, no que diz respeito a suas estratégias de campanha e de governo.
É inevitável que, nesse processo, alguns traços do "velho PT" se tornem manifestações espasmódicas de minorias partidárias cada vez mais isoladas politicamente. Nesse caminho, um dos elementos que os petistas estão, ao que parece, próximos de perder é a sua aura de paladinos da moralidade na política.
O messianismo purificador historicamente se tem mostrado uma perigosa bandeira política. Mas o rumo do pragmatismo, para o partido de Lula, será também, muito provavelmente, o da diminuição de um de seus maiores cacifes eleitorais.


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