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Ondas perigosas
NÃO BASTASSE a crise estrutural por que passa o setor aéreo no Brasil, pilotos e controladores de vôo ainda
têm de lidar com constantes interferências no sistema de comunicações provocadas por rádios comunitárias e piratas.
Anteontem, os aeroportos de
Congonhas e Guarulhos, os dois
mais movimentados do país, tiveram de suspender suas operações de pouso e decolagem por
seis minutos. Zunidos, pregações
religiosas, canções populares sobrepunham-se às instruções da
torre para os aviões.
O problema, que já provoca
"apagões" em média duas vezes
por semana, vem crescendo nos
últimos meses. De acordo com o
Serviço Regional de Proteção ao
Vôo de São Paulo, o número de
interferências saltou de 32 em
janeiro de 2006 para 171 até as
11h do último dia 29.
Esse tipo de ocorrência não
significa uma grave e iminente
ameaça à aviação. Além de os pilotos terem várias freqüências de
rádio à sua disposição, existem
sistemas redundantes de proteção ao vôo. Ainda assim, é inegável que a má qualidade da recepção radiofônica e ser obrigado a
procurar freqüências alternativas representam um estresse
adicional a pilotos e controladores. Quando se efetuam mais de
mil operações por dia, como é o
caso do controle de São Paulo,
toda dificuldade extra se traduz
em mais atrasos e insegurança.
É necessário, portanto, resolver de vez esse problema, pondo
um fim às interferências, mesmo
que isso implique o fechamento
de rádios que operam sem licença. Não se trata, como ocorreu no
passado, de cercear a liberdade
de expressão, mas apenas de disciplinar a utilização do espectro
eletromagnético, que tem limitações físicas, em claro benefício
da segurança do público.
Os representantes de rádios
comunitárias têm razões para
reclamar da forma como são distribuídas as concessões. Podem
fazê-lo sem criar mais empecilhos ao conturbado setor aéreo.
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