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Pirueta nuclear
Alemanha planeja desativar todas as usinas atômicas até 2022; Merkel anuncia plano ambicioso a fim de combater a popularidade dos Verdes
O desastre atômico de Fukushima, no Japão, fez uma vítima de
peso: a indústria nuclear da Alemanha. Todas as 17 centrais atômicas da quarta economia mundial serão desativadas em pouco
mais de uma década, até 2022.
A coalizão conservadora que
governa o país, chefiada pela democrata-cristã Angela Merkel, tomou a decisão acossada por razões eleitorais, não ambientais. O
gabinete Merkel quer conter o
crescimento dos Verdes.
Os Verdes são só a quinta força
no Parlamento (11% das cadeiras).
Obtiveram, porém, avanços notáveis em eleições recentes.
No Estado de Baden-Wurttemberg, governado há décadas por
democratas-cristãos, conquistaram 24,2% dos votos em março
-logo após o maremoto japonês-
e formaram uma coalizão com os
sociais-democratas do SPD.
As próximas eleições gerais na
Alemanha devem ocorrer até o final de 2013, mas podem ser antecipadas. Se houvesse um pleito hoje, a soma dos votos dos Verdes e
do SPD permitiria formar um novo
governo, indicam as pesquisas.
A política de desembarque nuclear foi proposta pela primeira
vez por um governo desses dois
partidos. Em 1998, o chanceler
(premiê) social-democrata Gerhard Schröder e o ministro das Relações Exteriores Joschka Fischer
prometeram desativar as centrais
atômicas até o mesmo ano de
2022. O plano foi depois abandonado, em face dos investimentos
para mudar a matriz energética.
Merkel, em lugar de quase um
quarto de século, tem apenas 11
anos para alcançar o mesmo objetivo. E programa fazê-lo duplicando a parcela de energia gerada por
fontes renováveis (hidráulica, eólica e solar) dos atuais 17% para
35%, por exemplo com grandes
turbinas de vento em alto-mar.
O custo da empreitada seria
comparável ao 1,3 trilhão despendido na unificação das duas
Alemanhas, nos anos 1990. Investimento improvável, na atual crise
econômico-financeira europeia.
Parece mais realista que a Alemanha venha a cobrir os 23,3% de
geração atômica com importação
de energia da França (predominantemente nuclear), ou com a
queima de combustíveis fósseis,
como carvão e gás natural (64,8%
da eletricidade alemã, hoje).
Trata-se de mais uma má notícia para o aquecimento global,
após a Agência Internacional de
Energia anunciar que a emissão
de carbono subiu 5% em 2010. A
meta de manter o aquecimento no
limite de segurança de 2°C, nesse
ritmo, já é quase inexequível.
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