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MIOPIA POLÍTICA
A Casa Branca continua emitindo sinais de que poderá lançar-se num empreendimento bélico contra o Iraque para derrubar o presidente Saddam Hussein. Trata-se de
uma aventura temerária que merece
o repúdio do mundo civilizado.
Ninguém duvida de que Saddam é
um dos piores tiranos do mundo.
Apenas seus asseclas podem ter motivos para desejar que ele siga no poder. Ocorre que já faz 11 anos que a
Guerra do Golfo terminou, sem que
os EUA tenham conseguido derrubar o ditador iraquiano. De lá para
cá, Saddam continuou perpetrando
seus pequenos e médios crimes cotidianos, mas não surgiu nenhum fato
novo grave o suficiente para cobrar
uma retomada das hostilidades.
É certo, por exemplo, que o Iraque
apóia o terrorismo em geral. Saddam
oferece prêmios em dinheiro para as
famílias dos homens-bomba palestinos, mas não se conseguiu detectar
nenhum envolvimento direto de
Bagdá em operações terroristas de
maior envergadura, como os atentados de 11 de setembro.
A abertura de uma frente contra o
Iraque agora só teria efeitos nefastos.
A maior vítima seria, sem sombra de
dúvida, a população civil iraquiana,
já sacrificada por mais de uma década de embargo econômico. A guerra
teria ainda a notável capacidade de
provocar a ira de populações islâmicas contra os Estados Unidos. Governos de países árabes moderados
que apoiassem Bush poderiam ter
problemas de sustentação.
Na economia, o impacto não seria
menos negativo. Um conflito contra
o Iraque é a última coisa de que o
mundo já em recessão necessita. Para além das incertezas geradas pela
guerra, o preço do petróleo provavelmente iria às alturas, e o déficit público americano sofreria pressões. Desta vez, diferentemente de 1991, os
EUA teriam de arcar quase sozinhos
com os custos da operação.
Só a miopia política poderia explicar uma ação contra o Iraque agora.
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