São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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MIOPIA POLÍTICA

A Casa Branca continua emitindo sinais de que poderá lançar-se num empreendimento bélico contra o Iraque para derrubar o presidente Saddam Hussein. Trata-se de uma aventura temerária que merece o repúdio do mundo civilizado.
Ninguém duvida de que Saddam é um dos piores tiranos do mundo. Apenas seus asseclas podem ter motivos para desejar que ele siga no poder. Ocorre que já faz 11 anos que a Guerra do Golfo terminou, sem que os EUA tenham conseguido derrubar o ditador iraquiano. De lá para cá, Saddam continuou perpetrando seus pequenos e médios crimes cotidianos, mas não surgiu nenhum fato novo grave o suficiente para cobrar uma retomada das hostilidades.
É certo, por exemplo, que o Iraque apóia o terrorismo em geral. Saddam oferece prêmios em dinheiro para as famílias dos homens-bomba palestinos, mas não se conseguiu detectar nenhum envolvimento direto de Bagdá em operações terroristas de maior envergadura, como os atentados de 11 de setembro.
A abertura de uma frente contra o Iraque agora só teria efeitos nefastos. A maior vítima seria, sem sombra de dúvida, a população civil iraquiana, já sacrificada por mais de uma década de embargo econômico. A guerra teria ainda a notável capacidade de provocar a ira de populações islâmicas contra os Estados Unidos. Governos de países árabes moderados que apoiassem Bush poderiam ter problemas de sustentação.
Na economia, o impacto não seria menos negativo. Um conflito contra o Iraque é a última coisa de que o mundo já em recessão necessita. Para além das incertezas geradas pela guerra, o preço do petróleo provavelmente iria às alturas, e o déficit público americano sofreria pressões. Desta vez, diferentemente de 1991, os EUA teriam de arcar quase sozinhos com os custos da operação.
Só a miopia política poderia explicar uma ação contra o Iraque agora.


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