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CLÓVIS ROSSI
Os salteadores e a altivez de pobre
SÃO PAULO - O governo brasileiro está se mostrando pobre até na tentativa de ser altivo ao reagir à catarata
de bobagens praticada por esse Paul
O'Neill, secretário do Tesouro norte-americano.
A ameaça agora é a de não ser recebido por Fernando Henrique Cardoso se não pedir desculpas. Ora, presidente que é presidente não recebe ministro. Recebe só presidente (ou primeiro-ministro, no caso de regimes
parlamentaristas).
Ou alguém já viu George Walker
Bush recebendo Pedro Malan, Armínio Fraga ou qualquer outro ministro (brasileiro ou de outro país) ?
Só no Brasil é que o presidente se
digna a conversar com funcionário
subalterno, desde que, é claro, pertença ao império ou à periferia do império (franceses, alemães etc).
Ainda que O'Neill peça desculpas,
estará mentindo, e todo mundo sabe
que estará mentindo. Afinal, em fevereiro já havia dito, em sessão do encontro anual do Fórum Econômico
Mundial, que os juros brasileiros
eram altos por conta da corrupção.
É, portanto, a mesma tese que defendeu domingo apenas formulada
semanticamente de outra forma. Pedir desculpas seria hipocrisia.
Que há corrupção no Brasil e que
há muita gente graúda que manda
dinheiro para a Suíça não resta a menor dúvida (é só olhar a classificação
do país no ranking de corrupção da
Transparência Internacional).
Mas O'Neill calou-se diante de corrupção muito maior praticada em
seu próprio país. O jornal britânico
"Financial Times" acaba de mostrar
que, nos últimos três anos, os executivos das empresas que faliram nos
EUA ganharam US$ 3,3 bilhões enquanto suas empresas iam para o lixo, deixando 100 mil pessoas desempregadas e acionistas na lona.
Para esses salteadores, tudo o que
O'Neill dedica é o silêncio. Por tudo
isso, se não viesse ao Brasil, apenas
preencheria uma lacuna.
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