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ANTONIO DELFIM NETTO
Reclassificação
de risco
Para avaliar corretamente o
que significou o rebaixamento
que a Standard & Poor's fez dos papéis externos brasileiros no dia 2 de
julho, passando-os, na sua classificação, de BB- para B+, é preciso considerar o seguinte:
1. Não adianta argumentar que as
"agências de ratings não entendem o
Brasil" (o que até pode ser verdade),
ou que elas têm errado com frequência (o que é verdade), porque elas (certas ou erradas) influenciam o comportamento dos investidores.
2. Dezenas de verificações empíricas
mostram que, a despeito de muitas dificuldades, há uma correlação positiva
importante entre aquelas classificações e alguns indicadores da economia que os credores entendem importantes (relação dívida líquida/PIB, relação dívida externa/exportação, porcentagem das exportações utilizadas
para pagar amortizações da dívida externa e seus juros etc.).
3. Há uma correlação positiva muito
forte entre as classificações de risco
das agências e os "spreads" do risco
soberano estabelecido pelo mercado.
A atitude inteligente e responsável,
portanto, não é "culpar" as agências
de risco, mas procurar corrigir os fatores que elas (para vender seus serviços
aos credores) observam mesmo reconhecendo que há um certo oportunismo no seu comportamento e que
(tendo errado muito), hoje, elas talvez
estejam mais exigentes e olhando
"muito mais para a frente".
A tabela abaixo mostra a atual classificação dos papéis brasileiros pelas
duas principais agências comparada
às do Chile e do México:
Grosseiramente, a classificação "A"
significa uma proteção média para os
portadores dos papéis, mas ainda sujeita às vicissitudes do ciclo econômico. As classificações "BBB" e "Baa" indicam papéis de risco maior do que a
média, mas aceitáveis para investimentos prudentes. A classificação "B"
indica papéis pouco recomendáveis
para investimento e com risco de não
serem honrados. O acréscimo dos sinais (+ ou -) e dos números (1 ou 2) indicam ligeiras mudanças que preparam uma possível progressão ou rebaixamento da classificação.
A Standard & Poor's não reclassificou o Brasil apenas por causa da excitação eleitoral -como se afirmou-,
mas porque acredita que a situação
externa do Brasil deve ser objeto de
cuidadosa observação por parte dos
credores. É um grande equívoco responder a isso com o argumento que
ela não entende a natureza da dívida
interna. Não foi por essa razão que
houve o rebaixamento, mesmo porque a agência reconhece o fato de
aquela dívida estar praticamente nas
mãos dos investidores brasileiros, o
que, aliás, não é garantia de que não
possa haver algum problema.
Nossa situação atual não decorre da
apreciação das agências de "ratings",
mas do fato de termos abusado no uso
da poupança externa. Supusemos, erroneamente, que, quando há liberdade de movimento de capitais, o financiamento nunca seca...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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