São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Grandes expectativas

RIO DE JANEIRO - Não estou acompanhando devidamente os lances da atual campanha presidencial. Leio o noticiário por cima, mas não me interessa saber se Ciro está em Niterói e Lula, em Campina Grande. Muito menos me interesso pelo que dizem. Serra garante que haverá justiça para todos. Garotinho promete o reino da paz e do amor.
Até aí, tudo bem, são boas intenções, das quais, segundo dizem, o inferno está cheio.
O que me admira neles é a fluência, a naturalidade com que se colocam realmente no poder. Distribuem verbas para todas as necessidades, cumprem todos os acordos comerciais, pagam todas as dívidas, as sociais e as do FMI, resolvem o problema da violência e da reforma agrária, dão justos salários aos servidores públicos e pensões decentes aos aposentados, tapam os buracos das rodovias e recuperam as ferrovias.
Uns pelos outros, são todos contra a corrupção, afirmam que os ladrões do erário público irão para cadeia e os honestos, para o paraíso, não os paraísos fiscais de Cayman ou de Nassau, mas para o céu mesmo, o céu da bem-aventurança eterna.
Creio neles e de tanto crer não preciso ler o que dizem. Em todo o caso, fico espantado com os meus colegas de ofício, que não apenas lêem mas tiram inapeláveis conclusões, uns acreditando, outros duvidando, uns exaltando, outros esculhambando o que os candidatos prometem fazer ou não fazer.
Os mais cautelosos, os isentos, de confiabilidade indiscutível, cobram além das palavras, dos compromissos assumidos verbalmente nos palanques, os programas partidários, enormes calhamaços entupidos de lugares-comuns que, embora redigidos por diversos assessores e técnicos de cada partido, dão a impressão de terem sido escritos por uma só e mesma pessoa.
Admiro do fundo do coração os quatro candidatos. Mas, sinceramente, nem sei o que estão prometendo.



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