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CARLOS HEITOR CONY
Grandes expectativas
RIO DE JANEIRO - Não estou acompanhando devidamente os lances da
atual campanha presidencial. Leio o
noticiário por cima, mas não me interessa saber se Ciro está em Niterói e
Lula, em Campina Grande. Muito
menos me interesso pelo que dizem.
Serra garante que haverá justiça para todos. Garotinho promete o reino
da paz e do amor.
Até aí, tudo bem, são boas intenções, das quais, segundo dizem, o inferno está cheio.
O que me admira neles é a fluência,
a naturalidade com que se colocam
realmente no poder. Distribuem verbas para todas as necessidades, cumprem todos os acordos comerciais,
pagam todas as dívidas, as sociais e
as do FMI, resolvem o problema da
violência e da reforma agrária, dão
justos salários aos servidores públicos
e pensões decentes aos aposentados,
tapam os buracos das rodovias e recuperam as ferrovias.
Uns pelos outros, são todos contra a
corrupção, afirmam que os ladrões
do erário público irão para cadeia e
os honestos, para o paraíso, não os
paraísos fiscais de Cayman ou de
Nassau, mas para o céu mesmo, o céu
da bem-aventurança eterna.
Creio neles e de tanto crer não preciso ler o que dizem. Em todo o caso,
fico espantado com os meus colegas
de ofício, que não apenas lêem mas
tiram inapeláveis conclusões, uns
acreditando, outros duvidando, uns
exaltando, outros esculhambando o
que os candidatos prometem fazer ou
não fazer.
Os mais cautelosos, os isentos, de
confiabilidade indiscutível, cobram
além das palavras, dos compromissos
assumidos verbalmente nos palanques, os programas partidários, enormes calhamaços entupidos de lugares-comuns que, embora redigidos
por diversos assessores e técnicos de
cada partido, dão a impressão de terem sido escritos por uma só e mesma
pessoa.
Admiro do fundo do coração os
quatro candidatos. Mas, sinceramente, nem sei o que estão prometendo.
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