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DESENCANTO POLÍTICO
De acordo com pesquisa Datafolha, 49% da população
brasileira afirma não acreditar na
existência de políticos honestos. Ou
seja, praticamente metade dos cidadãos considera que os responsáveis
pela condução da vida pública não
possuem um requisito básico indispensável para exercer suas funções.
São vistos como desonestos. O resultado não chega a causar grande surpresa, mas é de uma contundência
que não pode ser relevada.
Não há dúvida de que os escândalos de corrupção em curso, envolvendo representantes e líderes do PT e de
diversas agremiações, contribuíram
para a piora da avaliação. Se antes o
marketing ético do petismo podia
colaborar para um julgamento menos devastador, agora se tornou ainda mais justificável considerar que
políticos "são todos iguais".
O percentual de reprovação do desempenho dos congressistas é revelador dessa tendência: subiu de 28%,
em dezembro de 2004, para 36% no
último mês. Intensificada desde que
o Planalto deu espaço para a ascensão do deputado Severino Cavalcanti
à presidência da Câmara, a crise de
credibilidade chegou na série histórica da pesquisa ao patamar mais alto.
Na realidade, é a própria instituição
política que parece merecer o juízo
negativo da população, perplexa
com os espetáculos de descompromisso moral a que tem assistido. O
risco é o aumento da descrença na
democracia como um sistema capaz
de levar o país a atingir seus objetivos
num quadro institucional marcado
pelo respeito à coisa pública.
É fato que esse tipo de desprestígio
é um fenômeno internacional. A falência dos sistemas ideológicos e o
declínio das crenças na inevitabilidade de um futuro mais promissor deram lugar a um crescente ceticismo
quanto à capacidade e ao real interesse dos políticos em construir uma vida melhor. Que tal sentimento se
apodere de nações já em estágio mais
avançado de desenvolvimento é
preocupante, mas não tão grave
quanto o desencanto que se dissemina em países em desenvolvimento,
onde muito ainda está por ser feito.
Não é preciso ir longe para encontrar exemplos. Basta olhar para a
América Latina, onde em diversos
países manifestantes adotam a palavra de ordem "que se vayan todos"
(fora todos) para marcar o amplo repúdio aos políticos.
É essa erosão da confiança da sociedade em seus representantes que
ora se aprofunda no Brasil. É verdade
que não houve até aqui mobilizações
públicas de massa e não surgiram estudantes revoltados nas ruas, mas seria um erro interpretar essa aparente
tranqüilidade como um sinal de que
os brasileiros estão alheios aos fatos.
O descontentamento de algum
modo e em algum momento aparecerá. Talvez nas urnas, talvez em manifestações que, por ora, o controle
exercido pelo PT sobre os movimentos sociais tem ajudado a evitar.
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