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Bird x ACM e FHC
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O relatório sobre a pobreza que o Bird (ou Banco Mundial)
deve divulgar até setembro vai detonar, indiretamente, tanto a proposta
ACM como o governo Fernando Henrique Cardoso, a julgar pelos dados
ontem antecipados pelo jornal "Gazeta Mercantil".
Contra ACM, o texto dirá que "antes
de criar novos fundos e impostos para
combater a pobreza, o governo deveria gastar melhor o dinheiro alocado
para os programas sociais", informa a
"Gazeta". Bingo. Como já é sabido,
por documentos anteriores do banco,
só um terço da verba destinada a programas sociais chega a seu destino.
Nada faz supor que a proposta ACM
corrija tal desvio.
Contra FHC, Francisco Ferreira
(PUC-RJ e ex-funcionário do Banco
Mundial) lembra que piorou "significativamente" a situação dos 10% dos
brasileiros mais pobres entre 1976 e
1996 (ou seja, desde o governo do general Ernesto Geisel até a metade exata
de vigência do Plano Real).
Para esticar a conta até 1998, ou seja,
até o fim do primeiro reinado de FHC,
outro economista, Marcelo Neri (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, do próprio governo), diz que a
concentração de renda em 98 permaneceu próxima dos números de 1996.
Tampouco adianta culpar o desemprego elevado, supostamente conjuntural, pelo quadro tão pouco alentador: Neri lembra que o Brasil tem, pelos dados do IBGE, 5,5 milhões de desempregados, mas os pobres são 47
milhões. Ou seja, ainda que todos os
desempregados obtivessem emprego
instantaneamente, sobrariam mais de
41 milhões de pobres, o que é uma vergonha inaceitável.
Tudo somado, parece razoável concluir que o país dispensa impostos,
programas, planos contra a pobreza.
O que é preciso é governar para as
maiorias, coisa que não se faz neste
país desde que Cabral por aqui desembarcou já faz 500 anos.
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