São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
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Bird x ACM e FHC

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O relatório sobre a pobreza que o Bird (ou Banco Mundial) deve divulgar até setembro vai detonar, indiretamente, tanto a proposta ACM como o governo Fernando Henrique Cardoso, a julgar pelos dados ontem antecipados pelo jornal "Gazeta Mercantil".
Contra ACM, o texto dirá que "antes de criar novos fundos e impostos para combater a pobreza, o governo deveria gastar melhor o dinheiro alocado para os programas sociais", informa a "Gazeta". Bingo. Como já é sabido, por documentos anteriores do banco, só um terço da verba destinada a programas sociais chega a seu destino.
Nada faz supor que a proposta ACM corrija tal desvio.
Contra FHC, Francisco Ferreira (PUC-RJ e ex-funcionário do Banco Mundial) lembra que piorou "significativamente" a situação dos 10% dos brasileiros mais pobres entre 1976 e 1996 (ou seja, desde o governo do general Ernesto Geisel até a metade exata de vigência do Plano Real).
Para esticar a conta até 1998, ou seja, até o fim do primeiro reinado de FHC, outro economista, Marcelo Neri (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, do próprio governo), diz que a concentração de renda em 98 permaneceu próxima dos números de 1996.
Tampouco adianta culpar o desemprego elevado, supostamente conjuntural, pelo quadro tão pouco alentador: Neri lembra que o Brasil tem, pelos dados do IBGE, 5,5 milhões de desempregados, mas os pobres são 47 milhões. Ou seja, ainda que todos os desempregados obtivessem emprego instantaneamente, sobrariam mais de 41 milhões de pobres, o que é uma vergonha inaceitável.
Tudo somado, parece razoável concluir que o país dispensa impostos, programas, planos contra a pobreza. O que é preciso é governar para as maiorias, coisa que não se faz neste país desde que Cabral por aqui desembarcou já faz 500 anos.


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