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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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DETECTOR DE DROGAS

A partir do próximo mês, as farmácias brasileiras estarão vendendo os polêmicos aparelhos que permitem detectar o consumo de drogas ilícitas. O instrumento, que é dotado de um reagente específico para cada grupo de droga, funciona ao entrar em contato com a saliva ou o suor do usuário. Se o "suspeito" tiver consumido a substância proibida nos dias anteriores ao teste, o visor do aparelho ficará rosa.
Cada engenhoca funciona apenas uma vez e é preciso adquirir a versão correta para o tipo de droga que se quer testar: canabinóides (maconha, haxixe), opiáceos (heroína, morfina), anfetaminas (ecstasy) e derivados da cocaína. Cada detector custará entre R$ 40,00 e R$ 50,00. A expectativa do fabricante é comercializar 1,4 milhão de unidades nos próximos dois anos.
A polêmica, porém, não está apenas no funcionamento do instrumento, mas principalmente em sua utilização, que é controvertida sob diversos ângulos. Do ponto de vista legal, a questão é até simples: em princípio, nenhum cidadão pode ser testado contra a sua vontade e, se o for, a "prova" não terá validade jurídica. Se há, portanto, alguma utilidade para o teste, ela é relativamente limitada. A exemplo do bafômetro, poderia, por exemplo, ajudar a polícia de trânsito.
No plano médico, a questão é mais complexa. O que significa um único resultado positivo para uma determinada droga? A resposta é: muito pouco. A exemplo do que ocorre com o álcool, nem toda utilização de droga é patológica. Os melhores critérios para definir se alguém é ou não dependente são os sociais. Pode parecer tautológico, mas um indivíduo tem problemas com drogas a partir do momento em que as pessoas que convivem com ele percebem que ele tem um problema com drogas. Isso, obviamente, o teste não determina.
Em certos casos, a venda desses aparelhos em farmácias pode ser até contraproducente. Não é preciso muita imaginação para perceber que os maiores clientes tendem a ser pais preocupados com a possibilidade de que seus filhos estejam usando drogas. Eles certamente têm o direito de querer saber o que se passa com seus filhos. Testá-los, porém, sem o seu consentimento pode acabar causando constrangimentos e gerando atritos desnecessários e prejudiciais.
Pais que suspeitem de que seus filhos estejam enfrentando problemas com drogas têm, obviamente, todas as razões para preocupar-se. Nesses casos, o mais indicado é procurar ajuda especializada. Uma abordagem correta tende a minimizar os desgastes, além de produzir melhores resultados.


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