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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Fim de agosto

BRASÍLIA - A popularidade de Lula vai muito bem, mas o seu governo...
Depois de anos espinafrando a "insensibilidade social" do antecessor e de meses justificando a própria paralisia com o "Orçamento herdado de FHC", o problema pode ser outro, ou outros: incompetência de ministros e festival de vagas para aliados, especialmente do PT.
Depois de insistir que governa com os melhores, Lula vai promovendo uma troca de nomes quase imperceptível. José Graziano começou o ano com o principal programa do governo e termina com a perspectiva de corte de 77% de verbas em 2004. Carlos Lessa grita que está fortíssimo, mas quem manda é o segundo do BNDES. Humberto Costa, da Saúde, não fala mais em vacina, Aids, SUS. Só em cargos. A festa chegou até à Funasa e ao Instituto do Câncer!
Depois de décadas reclamando dos adversários que loteavam cargos em troca de votos no Congresso, o governo petista nomeia até afilhados de Jader Barbalho na Sudam e de Newtão Cardoso nos Transportes. Isto é: onde cabe. Em muitos órgãos, a lotação está esgotada -com petistas.
Depois de décadas empenhados na divulgação de documentos da guerrilha do Araguaia e na entrega de todos os corpos às famílias, petistas se surpreendem hoje com o recurso do governo, o seu governo, para maneirar a sentença judicial que ajudaria a pôr tudo em pratos limpos.
Depois de oito anos encampando a ira dos servidores por falta de aumento, eis o pagamento do PT menos de um ano após chegar ao poder com apoio maciço da categoria: além do 1% neste ano, a promessa da mesma dose também no próximo.
Depois de tantas manchetes prometendo o "espetáculo do crescimento" para este final de ano, Lula vai ter que anunciar um "erramos". Neste ano, não dá. No próximo, talvez.
Um direitista de má-fé diria: "Tá vendo? Não avisei que a esquerda não sabia governar?" Ainda bem que o próprio Lula garantiu de que desse mal ele não padece. Nunca, nunquinha, foi de esquerda. Ainda bem!


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