São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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O trem dos estagiários

DECISÃO anunciada pela Câmara Municipal de São Paulo tende a ampliar o descrédito dos integrantes da Casa diante da população. Apenas três meses após aumentar a verba para despesas de gabinete, a Câmara voltou a agir em causa própria nos últimos dias, quando sua Mesa Diretora autorizou os 55 vereadores a contratarem, cada um, quatro estagiários remunerados. O presidente da Casa terá direito a outros dez.
Pelo ato normativo, serão 234 vagas de estágio, com custo de cerca de R$ 2,7 milhões anuais. Um aumento de 2,5% no gasto da Câmara com funcionários. A iniciativa parece ainda mais descabida se confrontada com o fato de que todo vereador já tem direito a 18 assessores, com salários de até R$ 6.700.
Como cada gabinete ocupa, em média, 85 m2, os atuais ajudantes são muitas vezes obrigados a dividir mesas e computadores, pois não há espaço para mais equipamentos e mobiliário. Somar quatro pessoas a cada gabinete atenta não só contra o bolso do contribuinte mas também contra as leis da física.
Apesar de o primeiro-secretário da Câmara, José Américo Dias, afirmar que haverá "diversos mecanismos de controle" para evitar "desvio" de funções, a medida define que "o vereador será responsável pela indicação dos estagiários", que não terão obrigação de dar expediente no local. Caberá ao chefe de cada gabinete controlar a freqüência.
Ou seja, a um ano da eleição municipal, a decisão abre brecha para que os novos aprendizes sejam utilizados como cabos eleitorais nos redutos dos políticos. Por mais que vereadores digam que o objetivo é oferecer a jovens uma primeira qualificação, a contratação de estagiários não passa de um trem da alegria sob o disfarce de estímulo à formação profissional.

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