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O trem dos estagiários
DECISÃO anunciada pela
Câmara Municipal de São
Paulo tende a ampliar o
descrédito dos integrantes da
Casa diante da população. Apenas três meses após aumentar a
verba para despesas de gabinete,
a Câmara voltou a agir em causa
própria nos últimos dias, quando
sua Mesa Diretora autorizou os
55 vereadores a contratarem, cada um, quatro estagiários remunerados. O presidente da Casa
terá direito a outros dez.
Pelo ato normativo, serão 234
vagas de estágio, com custo de
cerca de R$ 2,7 milhões anuais.
Um aumento de 2,5% no gasto da
Câmara com funcionários. A iniciativa parece ainda mais descabida se confrontada com o fato
de que todo vereador já tem direito a 18 assessores, com salários de até R$ 6.700.
Como cada gabinete ocupa, em
média, 85 m2, os atuais ajudantes
são muitas vezes obrigados a dividir mesas e computadores,
pois não há espaço para mais
equipamentos e mobiliário. Somar quatro pessoas a cada gabinete atenta não só contra o bolso
do contribuinte mas também
contra as leis da física.
Apesar de o primeiro-secretário da Câmara, José Américo
Dias, afirmar que haverá "diversos mecanismos de controle" para evitar "desvio" de funções, a
medida define que "o vereador
será responsável pela indicação
dos estagiários", que não terão
obrigação de dar expediente no
local. Caberá ao chefe de cada
gabinete controlar a freqüência.
Ou seja, a um ano da eleição
municipal, a decisão abre brecha
para que os novos aprendizes sejam utilizados como cabos eleitorais nos redutos dos políticos.
Por mais que vereadores digam
que o objetivo é oferecer a jovens
uma primeira qualificação, a
contratação de estagiários não
passa de um trem da alegria sob
o disfarce de estímulo à formação profissional.
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