|
Próximo Texto | Índice
O QUE NÃO MUDA NO GOVERNO
Os zagueiros mais duros da linha
de defesa da política econômica saíram a campo para rechaçar reclamos
de mudança. Rebatem não só ataques da oposição, ora amostra concentrada da opinião de mais de 50%
da sociedade, mas também vaias de
sua cada vez mais impaciente torcida.
Há argumentos respeitáveis para
considerar hoje contraproducentes
as sugestões de botar fora o núcleo da
terapia ortodoxa de recuperação das
contas públicas e da economia. Mas é
agastante a caturrice, a obstinada falta de imaginação, da equipe econômica; o pouco caso com maneiras alternativas de lidar até com problemas
que estão no centro de sua agenda.
O governismo alardeia aos quatro
ventos o de fato gravíssimo déficit
previdenciário. Mas, além de jamais
ter convencido a população ou sua
base política dos benefícios de uma
reforma, que sempre pareceu abstrusa e uma ameaça a direitos, o economicismo planaltino vê a questão com
antolhos, de maneira parcial.
A economia se informaliza de modo selvagem, o que reduz a arrecadação previdenciária e tributária. Quem
não optou por elidir ou até fraudar o
fisco paga pesados impostos e contribuições sob estridente protesto.
Mas onde está o empenho do governo em levar adiante uma reforma
tributária e trabalhista que redistribua com mais racionalidade a carga
fiscal, que propicie a formalização de
negócios e empregos? De resto, a
mudança no sistema tributário poderia dar conta da sangria de recursos
via guerra fiscal; tornaria os produtos
brasileiros mais competitivos, com
efeitos no vital comércio exterior.
Sublinhe-se que, apenas nessa
questão dos tributos, estão envolvidos temas como o déficit público, a
eficiência da produção brasileira e a
proteção social. E o governo dormita.
Foi preciso o desastre cambial para
que se reagisse, ainda com lentidão,
ao fato de que a redução dos juros básicos pouco alivia a situação de quem
quer tomar empréstimos para investir ou consumir. Ainda mal se revê o
fundamentalismo da abertura comercial, que expôs setores da economia à concorrência desleal de produtos estrangeiros alavancados pelo
dumping e por subsídios oficiais.
Não é preciso ir longe para criticar a
política econômica, mesmo porque
ir longe demais seria nas atuais condições demagógico. Para tanto, basta
observar o descaso e a inépcia do Planalto em levar adiante a sua agenda.
Próximo Texto: Editorial: LIVRE ESPECULAÇÃO Índice
|