São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999
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O QUE NÃO MUDA NO GOVERNO

Os zagueiros mais duros da linha de defesa da política econômica saíram a campo para rechaçar reclamos de mudança. Rebatem não só ataques da oposição, ora amostra concentrada da opinião de mais de 50% da sociedade, mas também vaias de sua cada vez mais impaciente torcida.
Há argumentos respeitáveis para considerar hoje contraproducentes as sugestões de botar fora o núcleo da terapia ortodoxa de recuperação das contas públicas e da economia. Mas é agastante a caturrice, a obstinada falta de imaginação, da equipe econômica; o pouco caso com maneiras alternativas de lidar até com problemas que estão no centro de sua agenda.
O governismo alardeia aos quatro ventos o de fato gravíssimo déficit previdenciário. Mas, além de jamais ter convencido a população ou sua base política dos benefícios de uma reforma, que sempre pareceu abstrusa e uma ameaça a direitos, o economicismo planaltino vê a questão com antolhos, de maneira parcial.
A economia se informaliza de modo selvagem, o que reduz a arrecadação previdenciária e tributária. Quem não optou por elidir ou até fraudar o fisco paga pesados impostos e contribuições sob estridente protesto.
Mas onde está o empenho do governo em levar adiante uma reforma tributária e trabalhista que redistribua com mais racionalidade a carga fiscal, que propicie a formalização de negócios e empregos? De resto, a mudança no sistema tributário poderia dar conta da sangria de recursos via guerra fiscal; tornaria os produtos brasileiros mais competitivos, com efeitos no vital comércio exterior.
Sublinhe-se que, apenas nessa questão dos tributos, estão envolvidos temas como o déficit público, a eficiência da produção brasileira e a proteção social. E o governo dormita.
Foi preciso o desastre cambial para que se reagisse, ainda com lentidão, ao fato de que a redução dos juros básicos pouco alivia a situação de quem quer tomar empréstimos para investir ou consumir. Ainda mal se revê o fundamentalismo da abertura comercial, que expôs setores da economia à concorrência desleal de produtos estrangeiros alavancados pelo dumping e por subsídios oficiais.
Não é preciso ir longe para criticar a política econômica, mesmo porque ir longe demais seria nas atuais condições demagógico. Para tanto, basta observar o descaso e a inépcia do Planalto em levar adiante a sua agenda.


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