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LIVRE ESPECULAÇÃO
Abandonada a âncora cambial, o
governo pretendia chegar a um modelo de livre flutuação, objetivo ainda
longínquo. O caso brasileiro é de
transição. Na maioria dos países há
uma "flutuação suja": a oscilação do
valor da moeda nacional é administrada de modo errático e tópico pelos
bancos centrais. No Brasil, o risco está em o mercado interpretar a alta recente do dólar como indício de uma
tendência de alta sustentada, moderada por intervenções do BC.
No pior cenário, essa interpretação
assumiria o caráter das profecias auto-realizáveis, provocando uma migração gradual, mas sistemática, rumo a aplicações financeiras corrigidas pela taxa de câmbio. E incentivando a indexação da economia ao
câmbio, isto é, a dolarização.
O BC, para tentar tranquilizar o
mercado, cada vez mais toma empréstimos corrigidos pelo dólar. É
uma forma de tentar transmitir tranquilidade aos que querem comprar
dólares, pois sugere que o governo
não acredita na alta dessa moeda.
O que incomoda, nesse ambiente, é
que os indicadores de fluxos de divisas, a variação no estoque de reservas
e os números relativos a investimentos estrangeiros tiveram, nos últimos
meses, uma melhora expressiva.
Nem mesmo os indicadores específicos do mercado cambial, como os
contratos de proteção cambial (ou
"hedge"), indicam fuga de capitais.
Mas a pressão sobre o dólar continua. Ontem, o BC voltou a vender títulos corrigidos pelo câmbio.
O mercado caiu numa nova onda
especulativa, fruto de apostas de instituições financeiras nos efeitos perenes do atual mal-estar político.
Mas a experiência, sobretudo a recente, mostra que bolhas especulativas nem sempre são fenômenos superficiais, que se esgotam por si mesmos. Elas podem desencadear uma
incerteza que afeta toda a economia.
Seria, portanto, melhor que as intervenções do BC fossem fortes o bastante para intimidar a especulação.
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