São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999
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LIVRE ESPECULAÇÃO

Abandonada a âncora cambial, o governo pretendia chegar a um modelo de livre flutuação, objetivo ainda longínquo. O caso brasileiro é de transição. Na maioria dos países há uma "flutuação suja": a oscilação do valor da moeda nacional é administrada de modo errático e tópico pelos bancos centrais. No Brasil, o risco está em o mercado interpretar a alta recente do dólar como indício de uma tendência de alta sustentada, moderada por intervenções do BC.
No pior cenário, essa interpretação assumiria o caráter das profecias auto-realizáveis, provocando uma migração gradual, mas sistemática, rumo a aplicações financeiras corrigidas pela taxa de câmbio. E incentivando a indexação da economia ao câmbio, isto é, a dolarização.
O BC, para tentar tranquilizar o mercado, cada vez mais toma empréstimos corrigidos pelo dólar. É uma forma de tentar transmitir tranquilidade aos que querem comprar dólares, pois sugere que o governo não acredita na alta dessa moeda.
O que incomoda, nesse ambiente, é que os indicadores de fluxos de divisas, a variação no estoque de reservas e os números relativos a investimentos estrangeiros tiveram, nos últimos meses, uma melhora expressiva.
Nem mesmo os indicadores específicos do mercado cambial, como os contratos de proteção cambial (ou "hedge"), indicam fuga de capitais.
Mas a pressão sobre o dólar continua. Ontem, o BC voltou a vender títulos corrigidos pelo câmbio.
O mercado caiu numa nova onda especulativa, fruto de apostas de instituições financeiras nos efeitos perenes do atual mal-estar político.
Mas a experiência, sobretudo a recente, mostra que bolhas especulativas nem sempre são fenômenos superficiais, que se esgotam por si mesmos. Elas podem desencadear uma incerteza que afeta toda a economia. Seria, portanto, melhor que as intervenções do BC fossem fortes o bastante para intimidar a especulação.


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