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CLÓVIS ROSSI
FHC e a última dúvida
SÃO PAULO - Fernando Henrique Cardoso está sendo protagonista até
o último dia de seu reinado como nenhum outro presidente o foi desde pelo menos Ernesto Geisel (1974/79).
Itamar Franco poderia ter tido
idêntico protagonismo se não fosse,
digamos, excêntrico.
O fato é que Fernando Henrique
termina seu período, a rigor, como
exerceu todo o seu mandato: com o
copo meio cheio ou meio vazio, conforme a ótica de cada qual. Em qualquer área, sempre haverá argumentos para atacá-lo e para defendê-lo, o
que, bem feitas as contas, fala a favor
do presidente.
A maioria dos seus antecessores,
tanto antes como depois de Geisel,
encolheu no cargo.
A favor de FHC pesa ainda o fato
de que o seu governo foi o mais escrutinado pela mídia em toda a história
republicana. Ao contrário do que diz
parte do público, a mídia não foi condescendente, a não ser nos editoriais
de algumas publicações.
Escaldada pelo estrepitoso fracasso
de imagem por ter tratado Fernando
Collor como estadista quando era
apenas indecoroso, a mídia acabou,
no período FHC, por seguir, pouco ou
muito, bem ou mal, a trilha aberta lá
atrás por esta Folha e seu projeto editorial de jornalismo independente,
crítico, pluralista e apartidário.
Não creio ter havido um só problema no período que a mídia tenha
varrido para debaixo do tapete. Houve, ao contrário, falsos casos (dossiê
Cayman, por exemplo), que tiveram
farto espaço até na TV.
Antes, havia, sim, críticas e denúncias. Mas eram quase sempre motivadas politicamente, e não jornalisticamente (os jornais lacerdistas e o linchamento de Getúlio Vargas, no
exemplo mais dramático).
Claro está que o julgamento definitivo de FHC será feito pela história.
Por isso, despeço-me dele hoje na dúvida de ter sido, talvez, mais impiedoso do que o presidente mereceu.
Talvez porque esperasse um copo
mais cheio do que ele entregou.
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