São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

FHC e a última dúvida

SÃO PAULO - Fernando Henrique Cardoso está sendo protagonista até o último dia de seu reinado como nenhum outro presidente o foi desde pelo menos Ernesto Geisel (1974/79).
Itamar Franco poderia ter tido idêntico protagonismo se não fosse, digamos, excêntrico.
O fato é que Fernando Henrique termina seu período, a rigor, como exerceu todo o seu mandato: com o copo meio cheio ou meio vazio, conforme a ótica de cada qual. Em qualquer área, sempre haverá argumentos para atacá-lo e para defendê-lo, o que, bem feitas as contas, fala a favor do presidente.
A maioria dos seus antecessores, tanto antes como depois de Geisel, encolheu no cargo.
A favor de FHC pesa ainda o fato de que o seu governo foi o mais escrutinado pela mídia em toda a história republicana. Ao contrário do que diz parte do público, a mídia não foi condescendente, a não ser nos editoriais de algumas publicações.
Escaldada pelo estrepitoso fracasso de imagem por ter tratado Fernando Collor como estadista quando era apenas indecoroso, a mídia acabou, no período FHC, por seguir, pouco ou muito, bem ou mal, a trilha aberta lá atrás por esta Folha e seu projeto editorial de jornalismo independente, crítico, pluralista e apartidário.
Não creio ter havido um só problema no período que a mídia tenha varrido para debaixo do tapete. Houve, ao contrário, falsos casos (dossiê Cayman, por exemplo), que tiveram farto espaço até na TV.
Antes, havia, sim, críticas e denúncias. Mas eram quase sempre motivadas politicamente, e não jornalisticamente (os jornais lacerdistas e o linchamento de Getúlio Vargas, no exemplo mais dramático).
Claro está que o julgamento definitivo de FHC será feito pela história. Por isso, despeço-me dele hoje na dúvida de ter sido, talvez, mais impiedoso do que o presidente mereceu.
Talvez porque esperasse um copo mais cheio do que ele entregou.


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