São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Coração e razão

BRASÍLIA - Chova ou faça sol, Luiz Inácio Lula da Silva entra no Ano Novo e no seu governo com a alma de esquerda e o pé direito.
O Brasil despede-se de oito anos de FHC ainda movido por paixões a favor e contra, com prêmios internacionais pelo desempenho na área social, de um lado, e pesadas críticas internas, de outro. A história dirá.
E o Brasil acolhe Lula e o governo do PT com uma emoção de marcar época, uma expectativa raramente vista e a insistente conclamação a um "pacto nacional" e a um novo "contrato social" como se fossem a salvação da lavoura.
O Réveillon de hoje encerra uma era e começa outra? Há controvérsias. O mais razoável é olhar lá atrás, tentar espiar lá adiante e perceber que há em toda essa transição de Fernando Henrique Cardoso para Lula uma linha, uma continuidade. Um processo, enfim.
O país não deu grandes pulos da ditadura militar para um governo de esquerda. Ao contrário, caminhou devagar e sempre até chegar, 18 anos depois, a um governo de esquerda -e talvez nem tão de esquerda assim.
Passou pela moderação Tancredo, transitou aos trancos e barrancos pelo inesperado Sarney, testou a vertiginosa ousadia Collor e fluiu de Itamar para o social-democrata FHC até eleger Lula. Se não tivesse passado por FHC, talvez não tivesse fôlego para desembarcar em Lula. Ou, mais diretamente ainda, os oito anos de FHC permitiram que o Brasil enfim sentisse segurança para testar Lula.
Impossível não torcer, impossível não se emocionar, impossível simplesmente sentar e esperar. Mas o outro lado também não é razoável: acreditar de olhos fechados e apenas com o coração. A razão costuma ser uma boa companheira.
Lula usou a razão ao formar o comando da economia e o coração ao montar a área social. Finalmente, cedeu as grandes estatais a petistas e afins. Que todos eles tenham competência, juízo e sorte. Porque disso depende também a felicidade de todo um país, não só em 2003, mas nas próximas décadas. Tintim!


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