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ELIANE CANTANHÊDE
Coração e razão
BRASÍLIA - Chova ou faça sol, Luiz Inácio Lula da Silva entra no Ano
Novo e no seu governo com a alma de
esquerda e o pé direito.
O Brasil despede-se de oito anos de
FHC ainda movido por paixões a favor e contra, com prêmios internacionais pelo desempenho na área social,
de um lado, e pesadas críticas internas, de outro. A história dirá.
E o Brasil acolhe Lula e o governo
do PT com uma emoção de marcar
época, uma expectativa raramente
vista e a insistente conclamação a um
"pacto nacional" e a um novo "contrato social" como se fossem a salvação da lavoura.
O Réveillon de hoje encerra uma
era e começa outra? Há controvérsias. O mais razoável é olhar lá atrás,
tentar espiar lá adiante e perceber
que há em toda essa transição de Fernando Henrique Cardoso para Lula
uma linha, uma continuidade. Um
processo, enfim.
O país não deu grandes pulos da ditadura militar para um governo de
esquerda. Ao contrário, caminhou
devagar e sempre até chegar, 18 anos
depois, a um governo de esquerda
-e talvez nem tão de esquerda assim.
Passou pela moderação Tancredo,
transitou aos trancos e barrancos pelo inesperado Sarney, testou a vertiginosa ousadia Collor e fluiu de Itamar
para o social-democrata FHC até eleger Lula. Se não tivesse passado por
FHC, talvez não tivesse fôlego para
desembarcar em Lula. Ou, mais diretamente ainda, os oito anos de FHC
permitiram que o Brasil enfim sentisse segurança para testar Lula.
Impossível não torcer, impossível
não se emocionar, impossível simplesmente sentar e esperar. Mas o outro lado também não é razoável:
acreditar de olhos fechados e apenas
com o coração. A razão costuma ser
uma boa companheira.
Lula usou a razão ao formar o comando da economia e o coração ao
montar a área social. Finalmente, cedeu as grandes estatais a petistas e
afins. Que todos eles tenham competência, juízo e sorte. Porque disso depende também a felicidade de todo
um país, não só em 2003, mas nas
próximas décadas. Tintim!
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