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Pacote improvisado provoca críticas de setores do governo

Segundo assessores, medidas importantes acabaram sem destaque por terem sido incluídas de última hora

Palácio do Planalto queria dar 'volume' à cerimônia e incluiu até programa para o tratamento de câncer

VALDO CRUZ
NATUZA NERY
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA

Técnicos do governo federal trabalharam até a madrugada de ontem finalizando algumas das medidas do pacote, como o novo regime para o setor automotivo.

Como de costume, a presidente Dilma Rousseff fez vários reparos a poucas horas do evento no Palácio do Planalto e, num sinal da correria, acabou assinando apenas a metade dos decretos previstos dentro do pacote. Motivo: não houve tempo de incluir o restante no roteiro da solenidade realizada ontem.

Dilma estava contrariada durante o evento, tendo distribuído broncas ao cerimonial e até ao ministro Guido Mantega (Fazenda).

Em um determinado momento, ela discutiu com ele sobre números de desoneração numa folha de papel.

Até o longo arquivo eletrônico de Power Point com as medidas, divulgado pela Fazenda, tinha erros: o secretário-executivo Nelson Barbosa teve de corrigir o valor de desonerações deste ano de R$ 4,9 bilhões para R$ 3,1 bilhões.

Auxiliares da presidente, ao fim do evento, usavam uma metáfora de mecânica para resumir a correria: a tentativa de consertar um carro em movimento.

AMONTOADO DE MEDIDAS

O plano do governo de transformar o lançamento do pacote de medidas econômicas em um evento de grande impacto acabou se revelando um erro de estratégia de marketing, na avaliação de assessores da própria presidente.

A análise foi feita reservadamente durante a solenidade de ontem no Palácio do Planalto, que reuniu mais de 400 pessoas e durou mais de duas horas.

De acordo com esses assessores, o evento poderia ter sido desmembrado em pelo menos três grandes cerimônias e ganhar, com isso, maior destaque na mídia.

Da forma como foi feito o anúncio de ontem, o pacote virou um amontoado de 21 medidas novas, velhas e de antigas promessas -incluindo até Programa Nacional de Assistência Oncológica.

A presença do programa foi a que causou maior surpresa na equipe de Dilma, que contava com seu anúncio em outra data, de preferência com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -aproveitando o sucesso de seu tratamento contra um câncer na laringe.

'FAZER VOLUME'

Só que, de acordo com um auxiliar, o Palácio do Planalto queria "fazer volume" no lançamento de ontem.

O governo chegou a ser aconselhado, por exemplo, a anunciar em algum outro dia todas as medidas destinadas a aumentar as exportações para dar mais repercussão às novas ações de desoneração de impostos e de estímulo do investimento.

Para esses assessores, também perderam impacto medidas relacionadas ao Plano Nacional de Banda Larga e ao Programa um Computador por Aluno, projetos considerados prioritários pela própria presidente.

Pouca gente entendeu também o motivo de constar entre as medidas do pacote a famosa "guerra dos portos" -além de uma ameaça velada ao mercado de baixar novas medidas cambiais para conter a valorização do real.

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