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Ivan Lessa, um dos criadores de "O Pasquim", morre aos 77 anos

Jornalista e cronista, que morava desde 1978 em Londres, escreveu até o último dia de vida

Colaborador do site da BBC Brasil, ele estava recolhido a sua casa havia quase um ano, por causa de enfisema

Fernando Cavalcanti/BBC Brasil
O escritor e jornalista Ivan Lessa na Redação do serviço brasileiro da BBC, em Londres
O escritor e jornalista Ivan Lessa na Redação do serviço brasileiro da BBC, em Londres

RODRIGO RUSSO
DE LONDRES
JULIANNA GRANJEIA
DE SÃO PAULO

"Eu prefiro ler a escrever!" é uma das frases de Ivan Lessa que ficaram famosas. Apesar da afirmação, ele escreveu até o último dia de vida.

O jornalista e escritor brasileiro radicado em Londres desde 1978 morreu em sua casa na tarde de sexta-feira, aos 77 anos, em decorrência de enfisema pulmonar e problemas cardíacos.

De acordo com Elizabeth Lessa, 73, sua viúva, Ivan estava em tratamento havia quase um ano e ficava dentro de casa praticamente o dia inteiro, escrevendo.

Segundo Elizabeth, casada há 39 anos com o escritor, seu corpo será cremado em uma cerimônia em Londres, como ele desejava. A data ainda não foi definida.

Lessa também deixou a filha única Juliana, que tinha dois anos quando a família se mudou para Londres.

Mesmo debilitado, o jornalista continuava publicando suas colunas no site da BBC Brasil três vezes por semana.

Na última delas, que saiu na manhã de sexta-feira, ele chamava de mestre o também escritor Millôr Fernandes, morto em março deste ano, e enumerava uma série de frases brincando com a ideia da morte (leia à esq.).

Entre elas estavam: "Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do mundo" e "só quero ver quanta gente vai sincera no meu funeral".

Lessa carregava uma forte herança literária. Filho do também escritor Orígenes Lessa e da jornalista Elsie Lessa, era bisneto de Julio Cézar Ribeiro Vaughan, criador de jornais e autor do romance naturalista "A Carne".

Lessa foi fundador e um dos principais colaboradores do jornal "O Pasquim", durante a resistência à ditadura militar brasileira [1964-1985], ao lado de Ziraldo, Paulo Francis, Tarso de Castro e Millôr Fernandes.

Com o cartunista e amigo Jaguar, Lessa criou o ratinho Sig, inspirado no psicanalista Sigmund Freud, que se tornou símbolo de "O Pasquim".

O jornalista publicou três livros de contos e crônicas, "Garotos da Fuzarca", "Ivan Vê o Mundo" e "O Luar e a Rainha", e participou do livro "Eles Foram para Petrópolis", de 2009, compilação da sua troca de correspondência por e-mail com o amigo e jornalista Mario Sergio Conti.

Ele também trabalhou na TV Globo e colaborou para várias publicações brasileiras, entre elas a Folha, as revistas "Senhor", "Isto É", "Veja" e "Playboy", e os diários "O Estado de S. Paulo" e "Jornal do Brasil".

Em dezembro de 2011, Lessa publicou no site da BBC uma crônica intitulada "Morrer por Cremação É Joia".

Nela, afirmava: "Volto à morte como ela, delicada, se volta para mim. Todo dia, disse e repito, tem alguém conhecido que nos (dou uma chegada ao Brasil pelas asas da Panair) deixou. Leio o pouco que entendemos da difícil arte do obituário, na qual os britânicos ainda detêm medalha de ouro, e, na companhia fiel de meu enfisema, constatamos. Só isso. Constatamos. Não há mais motivo para verter lágrimas."

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