São Paulo, terça-feira, 01 de fevereiro de 2011
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JANIO DE FREITAS Um dia inquietante
A ESPERADA MANIFESTAÇÃO de 1 milhão de egípcios logo mais, convocada durante as últimas 48 horas apesar das múltiplas ações de repressão, tende a fazer de hoje um daqueles dias cruciais na inconvivência entre o poder e o sonho dos comuns. As hipóteses não são muitas. Na mais corriqueira, os militares -chefes e principais beneficiários internos de mais de meio século de ditadura- ocupam os espaços de protesto e o impedem de alcançar a expressão pretendida. É um processo bem conhecido. A indignação não cessa: a regra é que repita a tentativa, sob prisões a granel, ou se volte para gerar formas violentas de oposição, entre a desordem do vandalismo e o recurso às armas. A ditadura brasileira conheceu esse processo, e até hoje não pode encará-lo nem para a história. Outra possibilidade está também na regra muitas vezes confirmada. Os interesses depositados na ditadura de Mubarak, os internos e os externos, dão-lhe a determinação de resistência já sinalizada que, tudo faz crer, não é incapaz nem sequer de adotar o morticínio cego e sem limite, para abater o ímpeto opositor. Não há continente que tenha escapado a esse horror. A superação das forças repressoras pelos manifestantes, por contenção espontânea dos soldados ou de parte deles, está entre as possibilidades de hoje. Leve, ou não, a consequências diretas sobre a persistência de Mubarak. Mas daí, ou de ocorrências futuras semelhantes, deve-se ir à expectativa do que possam ser as reações externas. E cabem as mais variadas possibilidades nesse capítulo. Não só porque interesses poderosos podem sentir-se em risco, mas também por haver no Oriente Médio braços disponíveis, e muito bem armados, para agir como extensões de corpos alheios. E quem, a respeito, pensar em Israel, não deve se esquecer da Arábia Saudita e da Jordânia, que tremem ante a perspectiva de um regime democrático no Egito. Em caso de democratização egípcia, tem sido muito citado o perigo, para Israel, de perder o acordo de paz que obteve com o Egito, sua única conquista diplomática no mundo árabe. Não se nota, porém, razão alguma para que o Egito democrático não mantivesse, ou não refizesse, o acordo de convivência com Israel. Democratizado, o Egito estaria muito mais afinado com Israel do que com as ditaduras árabes. O que é atestado pela experiência de convívio proveitoso que Israel teve com a Turquia (aliada dos árabes) até o seu recente ataque aos barcos turcos a caminho da Faixa de Gaza. Hoje o Egito amanheceu sob uma tensão que se espraiou por grande parte do planeta. NO PROGRAMA Já houve algumas insinuações, mas talvez ainda convenha dizer que o encontro de Dilma Rousseff com as Mães da Praça de Maio foi por proposta argentina. Aceita como deveria por bons motivos, mas não sua, nem da diplomacia brasileira. Texto Anterior: Senado: PSOL decide disputar presidência Próximo Texto: Favorito na Câmara ampliou patrimônio Índice | Comunicar Erros |
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